Problemas e problemas...
Estava tendo uma recaída, praticando de novo o péssimo hábito de reclamar da vida, dizendo para um amigo que "ganhava bem, mas que tinha despesas mensais bem consideráveis, a começar por uma pensão para uma ex-companheira, no valor de dois salários mínimos, isto é, R$ 830,00". Ele deu uma risadinha irônica e informou:
- Enquanto tu pagas dois salários mínimos de pensão, eu só ganho um salário mínimo por mês para pagar tudo! Separar da mulher, nem pensar: ou vou passar fome ou vou parar na cadeia.
Ora, vejam só, eu achava que tinha um problema e o outro nem mesmo poderia ter esse problema, pois ganhava um miserável salário mínimo que lhe dava uma missão impossível: como sobreviver 30 dias de cada mês com esse salário!
Então há problemas e problemas...
E o óbvio ululante, como diria o saudoso Nelson Rodrigues, é que o problema não depende do problema, mas da maneira como a pessoa vê o problema.
Quando estourou a Revolução Militar de 1964 e se iniciou uma violenta repressão aos opositores da ditadura militar, vários líderes políticos ou intelectuais de renome foram buscar asilo no exterior. Mas outros, dos chamados "peixes miúdos", aqueles a quem sempre identifiquei como "inocentes úteis", não tiveram essa chance e alguns foram torturados ou mortos.
Anos depois, já decretada a anistia, voltou Leonel Brizzola, um dos graúdos que fora exilado, mais rico do que quando se asilara no Uruguai, pois lá, junto com o seu cunhado Jango, tornara-se grande latifundiário e acumulara enorme fortuna. É preciso explicar que quando Jango, o presidente deposto, e o seu cunhado Leonel sentiram que um golpe militar estava em marcha, transferiram toda a sua grana para bancos estrangeiros. E, assim, no dia do golpe, após incentivarem os "inocentes úteis" a enfrentar os canhões do Exército, pegaram um avião no Rio Grande do Sul e se mandaram para o Uruguai, "só com a roupa do corpo", disseram eles. Precisavam mais? Se o dinheiro já tinha ido....
Bom, mas não é de História que quero falar e sim de problemas.
O caso é que um dia o Clodovil, num seu programa de TV, entrevistou a Neuzinha, filha do Leonel Brizzola. E perguntou:
- Neuzinha, me diga, como foi a sua vida no exílio?
- Ah, Clodovil, muito triste, muito triste. Vivíamos como nômades, andando de um lado para o outro. Um ano em Nova York, um ano em Londres, um ano em Paris, etc.
Clodovil deu aquele seu célebre sorriso debochado e ironizou:
- É, imagino como deve ter sido duro para você... Um ano em Nova York, um ano em Londres, um ano em Paris. É, Neuzinha, imagino como você deve ter sofrido...
E para não tornar mais prolixa a crônica e causar para vocês um problema chamado de "encher o saco", vou finalizar, contando mais uma história de problema.
O meu amigo Pereira, 45 anos, é casado com uma mulher de encher os olhos. Literalmente. Morena alta, de olhos verdes, seios de dar cócegas nas mãos, enfim, um monumento. E um dia destes, encontrei-o com um ar aflito, à saída do banco. Cumprimentei-o:
- Oi, Pereira, como vais?
- Tô mal, cara, um problemão dos infernos!
- Como assim?
- Tô de caso com a minha secretária. E ela é grudenta. Não quer largar do meu pé. A minha mulher já está desconfiada e exige que eu a demita. Olha aí, lá vem ela!
Aproximou-se uma loura de uns 25 anos, olhos mais verdes que a Mata Atlântica, linda, linda. Sabem a Mariana Ximenes? Pois é, parecia a própria. Deu um beijão no Pereira e falou:
- Oi, amor!
Ah, vida! O que eu não daria para ter o problema do Pereira?