CIELO: LÁGRIMAS DE UM BRASILEIRO!

Por Poet ha, Abilio Machado.

Meu peito de brasileiro estava lá, junto, de pé na beira da água, comigo milhões de brasileiros com corações saltitantes à boca e garganta.

O salto quebrou a superfície, como golfinho em segundos submerso, éramos ali parte de tudo da água, da vida, do menino nadador...

Ao voltar existir em dois mundos, a água e o ar, a água e a superfície, as barcas fortes, remando vigor e juventude impulsionando o corpo de ouro olímpico, tão perto, tão ambicionado, bastando uma batida de mão na cerâmica que aprisiona centenas de sonhos e esperanças em uma grandeza da terra, a água. Tantos treinos, disciplina, tantos sacrifícios e tantas lágrimas.

Em segundos o nome entra para a história e não apenas há um só dia, mesmo que a memória do seu povo seja um tanto curta, mas esta medalha agora tem nome escrito, é César Cielo Brasileiro.

Gladiador brasileiro num compasso de consciência que o momento representa e que nem todos conseguem dimensionar o tamanho da conquista, algo que ultrapassa o certame da arena de água. Carregando nos ombros milhões de brasileiros leigos, mas que choraram com as mesmas lágrimas. Carrega também a força de vontade de perseverar, de lutar no gesto de socar a superfície líquida e urrar com a energia que talvez Netuno tenha presenteado: a vitória. Seu olhar ao ver o nome registrado no placar foi o olhar do menino ao ver a mãe retornar, olhar da mãe ao ver o filho nascer, do pai ao chegar a casa depois do trabalho, da mãe e ter o que colocar na mesa e ver os filhos a comer, olhar do velho ao receber uma gentileza, olhar de falar sozinho e se admirar.

O céu foi contemplativo á superação deste guerreiro. E a sensibilidade patriótica fez um gigante desmoronar frente a bilhões de expectadores, espalhados pelo mundo. O hino que mexe com qualquer brasileiro, hino de um país imenso, de andar capengante mas de vontade á toda prova: “...Verás que teu filho não foge à luta...”.

A cada lágrima levava consigo milhões de outras de emocionados compatriotas que estiveram ali, no mergulho, a cada braçada, cada respiração, cada dor muscular. Irmãos da terra a partilhar de sua conquista.

A cada lágrima milhões de brasileiros gritavam aos descrentes da capacidade deste povo, os corruptos que dizem que roubam por que o país não é civilizado, aquele choro foi um tapa na cara deste, daquele e daquele outro, que valorizam só o que vem de fora e esquecem que o que o país tem de melhor é o brasileiro.

A cada lágrima milhões de brasileiros venciam a mesma batalha, sair do anonimato, de fugir da estatística numeral e ter um nome, nome escrito nas estrelas... Com soluços descrever a felicidade de se estar no pódio, no lugar mais alto, de ver a Bandeira subir tremulante e o Hino a embalar a fraqueza de amor que em nós impera.

A conquista dos aplausos tão merecidos a quem foi, lutou e venceu por milhões de lágrimas brasileiras.