O teatro da padaria.

Quantas objeções com valores significativos ficaram presas a minha mente? Não sei. Seria simples e gratificante se pudesse, ao precisar, expor tudo que eu sinto pra fora; enfim, explodir. Antes que eu caia no poço da continuidade de discursos sempre ditos, explico-me: O que posiciono não tem o mínimo caráter de revolta – muito menos desabafo. Se uso a palavra explosão, é pelo simples sentido que ela pode proporcionar (pois não quero que se pense que foi como uma caixa que se abriu, o que demonstraria que a vazão dos sentimentos não foi de vez, mas aos poucos). É justamente contra isso que luto, e digo: sim, explodir. Explodir porque foi tudo de uma vez; explodir porque sentido algum pode ser tirado numa batida de olhos - nem a simplicidade é tão simples assim.

O louco que se condena pelo começo de seu discurso, sou o contrário. Irei mostrar o que meu preâmbulo não diz; irei expor a sentimentalidade presa em cada linha, que é, quase sempre, inobservada.

Por um momento, enquanto saia de casa em um dia rotineiro - nada fora do normal - resolvi quebrar a minha linha, fugir ao comum, inventar que o tempo poderia convergir diferente, mesmo que só pra mim, mesmo que como ilusão da minha mente. Deveria, eu, seguir para a padaria; não fui, porém. Parei em frente ao primeiro ponto que vi ao sair de casa, e pensei: E se o destino realmente existe? E se a realidade é um caminhar por linhas desenhadas? (Desenhadas, e não traçadas. Se coloco traço, o que passo é a idéia de exatidão: uma linha perfeita. A vida, como sabemos, não é isso. Talvez belo fosse colocar caricatura, mas também não prefiro; usei, então, desenho. Desenho porque viver é metaforizar, assim temos que a vida é uma metáfora (falácia maldita, falarão; pouco me importa). Então peço-te, louco ouvinte, interprete-a como quiser. O que vem da vida é o que precisamos da vida - o mesmo digo dessas linhas. Tirem das linhas algodão, ou não tirem nada, ou esqueçam que lêem linhas e viagem; pouco importa (novamente). O importante, realmente, é que se tire algo do que se lê – esse algo precisa ser belo. Parêntese muito longo, creio; porém necessário. Não adianta se resumir o que se quer dizer pra seguir o que se diz que se deve dizer. Escrevo o que fica preso na cabeça, que importa o tamanho dos parênteses? Importa que não se perca a linha do pensamento, destarte, retomo: Peguei um ônibus no ponto e quebrei a continuidade (lembre-se, deveria ir à padaria, como num dia comum). Não fui à padaria, não voltei pra casa, não dormi essa noite - a descoberta que eu fiz não deixou. O que vi? Contarei, sim; depois. Sinto um imenso pesar de duas noites de reflexão; a cama grita: vem, ó navegador que não conhece o mar: não vês que tudo isso não lhe levará ao novo continente? Às vezes finjo que não a ouça, às vezes ignoro. Talvez a confusão entre Heráclito e Parmênides não precisasse ser tão grande: move, como sei que tudo move. E se move, decai (meu rosto é o exemplo claro disso). Bom, dirijo-me à cama: hoje fui derrotado; amanhã (quem sabe?) volto.

obs: Pode parecer não ter sentido algum, mas tem: Continua. Quando puder, publicarei a "explicação". Até mais.