Olhos de menino
Meu quarto era bem maior quando eu tinha sete anos. Tudo era mais fácil quando eu tinha sete anos. Eu achava que amava a menina que sentava à minha frente na primeira série. Eu amava batata frita, futebol e televisão. Eu amava aviões, aliás, eu queria ser piloto. Meu pai, que sempre me levou até o aeroporto, via meus olhos brilharem. Eu brincava sem compromisso. Eu amava meu cachorro. Eu amava poder andar agarrado nas costas do papai. Pipa? Papagaio? Não, não... Não faziam meu estilo. Apesar de que, só com eles eu poderia guiar algo aos céus, mas eu me contentava com os joguinhos de avião. Quanto aos amigos, tinham-se aos montes. De todos os tipos e formatos. Brancos e camuflados com tanques de guerra quase maiores do que eu. Feliz geração “Estrela”. Eu amava tudo o que tinha e fazia.
Passaram-se mais de dez anos. Mas nem muita coisa mudou. Eu não amo mais a garota que senta à minha frente, até mesmo por que ela não existe. Quem senta à minha frente na faculdade é um sujeito conhecido como “Thiagão” e não pretendo me apaixonar por ele. Eu ainda amo batata frita, mas nem tanto futebol e televisão. Eu ainda amo aviões e quero ser piloto, mas papai não me leva mais ao aeroporto...Eu tenho que ir sozinho. Não amo meu cachorro simplesmente por que, meu apartamento não me permite ter um. Também não posso mais andar agarrado nas costas do papai, pois ele tem escoliose e eu mais de oitenta quilos. Joguinhos de avião? Tá, Tá...Eu assumo, eu ainda tenho. Quanto aos amigos, ainda tenho aos montes, mas não são de brinquedo. São de vários tipos, é verdade... Mas esses pelo menos falam. Repito: Nem muita coisa mudou. Apenas meus olhos de menino que passaram a ser olhos de homem. Olhos de homem sim! Com lembranças de menino.