A DANÇA DOS SETE VÉUS
Por uma dessas raríssimas e excepcionais bênçãos do destino, fui um dos convidados para comparecer a uma curiosa festa, onde a maior atração era a escolha da rainha da Dança dos Sete Véus.
A principio, pensei que fosse algum novo tipo de brincadeira, como as das pegadinhas de programas de televisão de domingo à tarde mas, quem me convidou era pessoa séria e depois de me informar sobre a veracidade do evento, sua organização e que realmente, a idéia era escolher a melhor dançarina entre doze moças, primeiro agradeci aos céus pela maravilha de presente e segundo, passei a contar os dias e as horas com enorme ansiedade para comparecer ao local onde, com certeza , algumas deusas estariam reunidas.
Não que eu estivesse interessado em apreciar ou conhecer qualquer uma das dançarinas ou mesmo contar os véus que seriam retirados mas a grande verdade, digamos assim, é que minha curiosidade era unicamente cultural. Quer dizer, como conhecia muito pouco daquela dança (até porquê quem me conhece sabe perfeitamente que sou péssimo dançarino), estava ansioso para comparecer a festa só para adquirir um pouco mais de, (por favor podem acreditar) cultura.
Só tinha assistido a dança pela TV e sinceramente, não fazia a menor idéia do que poderia acontecer. Não estou sendo sincero. Fazia idéia sim e era por esse motivo que aceitei sem pestanejar o convite.
Dançarinas com véus transparentes cobrindo o rosto e o corpo tem algo de magia, de mistério e instigam nossos sentidos masculinos. Pelo menos duas vezes por mês, nossas esposas deveriam nos brindar com uma magnifica dança dos sete véus. Dependendo do horário, os sete véus poderiam ser até reduzidos para dois ou três, no máximo.
Se isso pudesse acontecer, de forma absolutamente espontânea, não tenho nenhuma dúvida que qualquer marido esperto concordaria em lavar a louça do jantar por um mês ou dois, diariamente.
E, finalmente o dia da festa amanheceu. Sexta feira ensolarada, um pouco de calor e podia-se ler nas nuvens de um céu azul bem forte que aparentemente nada, mas absolutamente nada, poderia dar errado naquele dia e assim, pulei da cama mais animado ainda para ir trabalhar. Se bem me lembro, até cantei uma música do Roberto Carlos debaixo do chuveiro.
Tudo parecia contribuir para que o dia transcorresse maravilhoso tipo assim, o trânsito estava ótimo, meu chefe não ia ao escritório naquele dia, ao desembarcar da condução achei uma cédula de cinco reais e ainda por cima, não enfrentei fila no elevador. No almoço ganhei um bombom de brinde, durante o dia todo o telefone tocou muito pouco e as horas, por incrível que pareça, estavam passando muito rápido.
O magnífico show começaria às oito da noite e por volta de quatro da tarde, um pouco apreensivo, comecei a perceber que o sol se recolhera mais cedo e nuvens negras tinham expulsado os flocos de neve que adornavam a bela tarde ensolarada. Quer dizer, o tempo estava fechando. Ventos vindo do sul começavam a soprar com mais força e ao longe, fiz o possível para fingir que não tinha percebido um ou dois raios. Eu não queria admitir mas a verdade é que se aproximava uma tempestade daquelas.
Se fosse só uma tempestade, tudo bem, passava lo go. A preocupação é se viesse um dilúvio. Aí é que a coisa ia ficar preta. Aliás, ainda não eram cinco horas da tarde e as luzes da cidade já estavam acesas. E acompanhado de um verdadeiro vendaval, caiu o maior dilúvio que já tinha visto. E pela quantidade de água que estava caindo, me pareceu que o dilúvio não iria embora tão cedo.
Eu ainda tinha um restinho de esperança. A dança dos sete véus só começaria as oito da noite. Talvez o tempo melhorasse. Mas não melhorou, pelo contrário, piorou. Sou teimoso como uma mula e além do mais, considerava uma terrível indelicadeza recusar um convite para um evento daquela magnitude. A sorte continuava do meu lado pois logo depois de ter saído do meu prédio tropecei e caí dentro de um táxi.
É , mais a sorte logo foi embora pois caímos num engarrafamento absurdo. E o tempo passava, dilúvio e vendaval aumentavam e nem sinal de sairmos do engarrafamento. E exatamente no meio daquele caos, me lembrei que não tinha ido ao banheiro, quando saí do escritório. Meio sem jeito pedi ao motorista para dar uma pequena parada num posto de gasolina que se aproximava.
Paramos, tomei um pouco de chuva e vento mas fui ao banheiro. Aliviado voltei para o taxi mas não tinha mais nenhum táxi me esperando. O danado tinha ido embora. Não entendi o motivo mas tinha ido embora, certamente com uma passageira muito mais bonita. Resultado, fiquei na chuva, sem condução e para piorar, faltou luz exatamente a partir daquele instante.
A cidade estava um autêntico breu. O que fiz foi caminhar na chuva, pisando em várias poças e lagoas com água suja, mas me orgulho de ter chegado ao local da festa. Só que naquela noite não teria festa. Aliás, ali não tinha ninguém, só escuridão.
Perguntei a um porteiro que já ia saindo o que tinha acontecido e ele, todo apressado me informou que o show tinha sido cancelado, sem data para ser novamente realizado.
O que novamente fiz foi voltar pra casa na chuva. Consegui chegar praticamente de madrugada. Não tinha luz, a patroa estava dormindo e naquela noite não vi nenhuma dança de sete véus. Também não jantei, não fiz lanche e ainda tive um trabalhão danado para colocar minha roupa molhada para secar, peça por peça..........
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NOTA : - Por medida de segurança, quando souber que na TV estará sendo exibido algum show sobre a Dança dos Sete Véus não vou esquecer de gravar, com o único objetivo de adquirir...........cultura.........
(.....imagem google.....)