Sobre aquários e gaiolas.
Nunca mais olhei da mesma forma para um aquário, desde que assisti “Procurando Nemo” da Disney. Minha esposa e eu levamos nossos filhos João Mateus e Júlia ao cinema na intenção de diverti-los, mas quem saiu de lá maravilhados fomos nós. Descobri como uma relação entre pai e filho pode ir além do convencional. Um peixe medroso que vivia em um coral vence todas as suas “neuras” e atravessa o oceano em busca de seu filho.
Há duas lições de alto valor nesta história para crianças. Primeiro é que somos capazes de vencer nossos medos pelo amor. O amor é este sentimento que nos faz superar, surpreender. Faz-nos ir além de nós mesmos e chegar onde nunca se imaginou. O perigo que antes era tremendo, intransponível, torna-se um obstáculo certamente vencido. Os problemas até então indissolúveis, vão sendo resolvidos um a um como num jogo de palavras cruzadas até que não sobre mais nada a ser resolvido.
Se fossemos capazes de lutar por nossos sonhos como se estes fossem nossos filhos, talvez conquistássemos mais coisas. Provavelmente não desistiríamos tão facilmente mediante os desafios e contratempos. Mas há um aspecto maravilhoso nisso tudo. Não se pode avaliar o valor de um filho, e muito menos compará-lo a qualquer sonho. Talvez seja essa a razão de sermos tomados por uma coragem sobrenatural quando nossos filhos estão em apuros.
Sempre odiei ver pássaros engaiolados. Quando garoto meu pai tentou criar alguns, mas, as espertas aves sempre arranjavam um jeito de fugir. Meu pai não entendia como elas saiam, eu porém, me senti no direito de colaborar com as pobres aves, por isso eu abria as portinhas das gaiolas e pensava; se elas gostam de ficar aqui, então não fugirão, mas se voarem é por que não gostam de ficar presas. Eu respeitava a liberdade delas.
Fico pensando como somos privados pelos modelos sociais e morais, esses modelos nos encaminham para dentro de gaiolas e aquários. Como no mito da caverna de Platão, tudo é uma grande ilusão, mas todos querem que acreditemos ser real. E esta é a segunda grande lição do filme. Percebi que em um aquário não há liberdade mas conformação. Tenta-se viver feliz já que não se pode mudar a vida. Somos feridos marcados em nosso interior, traumas que nos aprisionarão pelo resto de nossas vidas, farão de nós eternos “engaiolados”, cercados por uma redoma de vidro.
Já observou estes aquários grandes? Lá dentro é um mine mar, com algas, pedras, conchas, embarcações afundadas, um colorido maravilhoso, tudo muito belo, uma réplica do oceano, mas é só um aquário.
Se acredito no amor como força para superar quaisquer obstáculos, acredito na educação e no conhecimento como instrumentos libertadores contra as “prisões” que nos são impostas neste mundo. Somente pela educação é possível ter discernimento, só tendo condição de fazer juízo de algo, pode-se ser livre de verdade. Sem conhecimento, o ser humano acomoda-se mediocremente em seu aquário colorido, ignorando a existência de um oceano.
Jonatas C. Carvalho.