Carta aos ETs. Parte quatro.

29/5/8

Não é nenhum segredo que nós, seres humanos, temos uma forte afinidade com combates, pelejas e guerras, no sentido mais amplo possível.

Desde tempos remotos, a civilização humana sempre teve grande fascínio por lutas entre os da mesma espécie, ou não, de caráter esportivo, ou não.

A autenticidade dos registros sobre a primeira luta entre dois humanos ainda é um pouco controversa, mas acredita-se que esta tenha acontecido há cerca de cento e cinqüenta e quatro mil, oitocentos e setenta e três anos atrás, e, como a maioria das encrencas que sucederam esta primeira peleja, teve como motivo a mulher alheia.

A mulher alheia, talvez por possuir certa magia transcendental, já ensejou inúmeros entreveros em passados distantes e recentes, e hoje em dia é estatisticamente o maior agente causador de guerras na humanidade, seguido pelo esbarrão não-intencional e logo depois, pela conta do bar. Cabe lembrar, que no intuito de apaziguar desavenças e transformar o mundo num local mais tranqüilo, há quem defenda a extinção do conceito de “mulher alheia”, como já acontece em alguns lugares específicos, chamados “casas de swing”. Porém, este é um assunto para outra ocasião, por ser merecedor de análises exaustivas e pormenorizadas. Quanto à conta do bar e ao esbarrão não-intencional, infelizmente ainda não há nenhuma solução efetiva.

De qualquer forma, logo após o advento dos primeiros arranca-rabos entre humanos, aqueles que não possuíam grande porte físico (comumente chamados de “baixinhos invocados”) perceberam a necessidade de se criar ferramentas no intuito de aumentar a eficiência do processo. Assim, criaram-se as primeiras armas.

Uma parte da comunidade científica ainda acredita que as primeiras armas tenham sido desenvolvidas com finalidade de caça, porém, não é necessário muita perspicácia ou grande conhecimento sobre a raça humana para perceber que tal teoria é completamente descabida de qualquer lógica.

E assim foram criadas as primeiras armas e técnicas de luta, sendo algumas destas amplamente utilizadas até os dias de hoje, como a clássica “dedada no olho” ou o eficaz “chute nos grãos”. Atualmente a humanidade dispõe de um enorme leque de produtos e processos para arrebentarem-se uns aos outros, o que, ao nosso modo de ver as coisas, é motivo de grande orgulho. Basicamente, o rol de opções vai do peteleco na orelha até a bomba de hidrogênio, passando por milhares de outras possibilidades.

Aliás, a humanidade já provou ter uma capacidade inventiva admirável, ao menos quando o objetivo é ceifar a vida alheia. Vamos aos exemplos: Depois dum cidadão inventar um composto químico chamado de pólvora, empolgado com a possibilidade de criar lindos fogos de artifício, outro resolveu usar o produto para acelerar pedacinhos de chumbo, e conseqüentemente, matar gente... Da mesma forma, depois dum cidadão descobrir uma forma sensacional de criar muita energia a partir da fissão de núcleos de alguns elementos químicos, empolgado com a possibilidade se suprir a demanda energética da humanidade, outro sujeito resolveu usar a descoberta para explodir cidades inteiras, e por óbvio, matar gente... No fundo, a idéia principal é essa mesma: Matar gente.

Este fascínio humano por lutas, guerras e afins, acabou por desenvolver, ao longo da história, uma atividade tanto quanto peculiar: O lutador. Lutadores são as pessoas que se especializaram em brigar, profissionalmente ou não. Existem lutadores de várias modalidades, com suas respectivas técnicas e regras (e algumas vezes até sem quaisquer técnicas ou regras), que, ao derrotarem seus adversários, demonstram aos demais suas virtudes, tais como virilidade, masculinidade, superioridade e altivez. E em teoria poderiam até, desta forma, impressionar as fêmeas da espécie.

Porém, há de se ressaltar que a masculinidade envolvida no processo já não é mais um ponto tão importante como já foi outrora, tendo em vista que o advento da dita “modernidade” ensejou a quebra de alguns paradigmas sociais de ordem sexual, e de quebra uma maior aceitação de certos comportamentos, que num passado recente eram considerados moralmente inaceitáveis. Isso fica claro se analisadas as características das lutas populares de, por exemplo, dois séculos atrás em comparação às popularizadas atualmente. Enquanto no passado dois cavalheiros podiam resolver suas diferenças socando-se mutuamente, mas de modo a manter certa distância um do outro, resguardando assim certa dignidade, hoje em dia não é raro ver dois camaradas suados e de sunga, a praticar agarramentos, abraços, e apertões que em muito lembram a prática do coito.

Pessoalmente, quiçá por carência de humanidade em meu espírito, não vejo grande graça em tais lutas de agarração. Até porque, do modo como a coisa a anda, imagino que a sunga não vá durar mais muito tempo...

Herr Brehm
Enviado por Herr Brehm em 13/08/2008
Reeditado em 13/08/2008
Código do texto: T1126316