O tempo senhor de si
Águida Hettwer
 
              Há noite cobre o dia na mais perfeita harmonia, nada escapa do tempo, as lembranças, a fase de criança, o descobrir da vida e suas peculiaridades, dos sonhos cultivados, o desejo mencionado no desenho do papel marche. A vida transborda entre os dedos, revelando-nos segredos. O universo de cada um descortina, apartando as nuvens densas, deixando o sol nascer. Ainda ouço as cantigas de roda, do tempo de menina. O riso despreocupado, o balançar das tranças ao vento. O cheiro de mato, que nenhum ar condicionado por mais moderno e potente que seja, consegue se igualar ao seu frescor natural. Sonhos atrevidos, escritos no diário, o quarto, pequeno espaço, meu confessionário. Mania de escrever o que passeia na mente, Parece-me que apenas escutar, não é o suficiente. Preciso de anotações, de arquivar emoções no papel. Cultivo até hoje religiosamente guardar anotações nas bolsas, num amontoado de letras.
     Que vão de recados a receitas, é como se de alguma forma me sentisse bem, no meio dessas “bagunças”. Onde as idéias fluem como a fumaça de um incenso desenhando imagens no ar. Trazendo-me lembranças, onde não preciso pagar ingresso, apenas retorno no tempo quando quero, onde o silêncio é meu fiel companheiro.
     
 
13.08.2008