Previsão do futuro, que pode ser evitada

O ser humano é um ser engraçado, pois teme tudo e ao mesmo tempo escolhe viver os desafios que a vida o proporciona. Sente que seus impulsos estão mais voltados às impurezas do seu eu, mais do que às suas sórdidas necessidades, chora quando é frustrado e sorri ao provocar uma frustração.

É esse o ser que domina a sua própria destruição, que dá valores às posses e não ao próprio ser em si, em sua alma, em suas emoções. É esse o ser que definha com o tempo por questões que ele mesmo cria; o ser humano se auto-intitula um grande predador, e realmente o é, porém a sua presa é ele mesmo, cada um com sua própria individualidade e igualdade.

Ao ser humano, escolhas são oferecidas e ofertadas pelas mais diversas maneiras possíveis (e impossíveis), ele quem vivencia à ferida aberta os males que sua própria atitude traz; reverencia madeiras, pedras, papéis e outros seres humanos, por simples “achismo” de que são os melhores, são os mais bem cotados, são os ideais, quando nem esse “ideal” sabe o que é ser um.

Há algum tempo, os ideais eram sonhos, hoje são pessoas, são momentos, são situações desafiadoras que nos circulam e nos corroem gradativamente até que fiquemos sujos, incapacitados, sem ação, sem ideais, sem seres humanos para idolatrar. Essa tendência comprova a grande inteligência que o Homo Sapiens possui; inteligência que não dá valor ao mal que faz, à dor real e próxima, à aflição por mais um milésimo de segundo de vida.

O Ser Humano sabe desses acontecimentos atuais, explicam, através das poeiras navegadas, o presente, choram por melhorias, mas nada, nada, farão no futuro; até mesmo no agora, que poder-se-ia salvar duas mil vidas, fechamos os olhos para dormir, ou levantamos para ir trabalhar, ou fazer nada, ou ler um texto a mais, escrito por um qualquer, ou até mesmo cometer as atrocidades que tanto recriminamos. Isso continua a cada segundo, a cada piscar de olhos, a cada passo, a cada letra lida... e por assim flui, flui como um rio que um dia, e somente por um único e sagrado dia, explode raivoso, com emoções incontidas pelos tempos, pelos sorrisos, pela alegria de viver.

Quando a hora da tormenta vier, veremos lágrimas, soluços, união; mas de nada adiantará, nada poderá conter a fúria acumulada durante tanto tempo. As especulações feitas hoje, para daqui a vinte ou quinze anos, serão sussurros ao real momento de agitação e violência que o ser humano colherá do seu atual plantio. A felicidade, doce ilusão do passado, será dizimada de todas as janelas vitais. A sorte somente irá aparecer para poucos que conseguirem mais alguns dias, depois do estouro da manada.

Hoje, sorrimos; amanhã, sorriremos por não ter outra alternativa. O grão de areia será o melhor presente que poderemos cultivar durante tanto tempo, as heranças que cultivarmos serão apenas papéis que se perderão nas chamas de fúria.

Ainda bem que isso não acontecerá na ano seguinte, nem no próximo mês, muito menos na próxima manhã de primavera. Mas com certeza, acontecerá quando necessitarmos de uma voz amiga que nos trará esperança para a alegria da vida, mas jamais as teremos, por nos comportarmos de modo inteligente, por usarmos nossas habilidades com tanta sabedoria a ponto de não compartilharmos as nossas dádivas, que nos foram dadas sem custo algum.

Exércitos travam hoje uma batalha sem rumos, sem pudores, sem vencedores. Apenas a morte e a amargura os rodeiam. Essa guerra não acontece longe, ela começa ao mesmo momento em que formos para a esquina comprar o pão, ou o jornal, pois é de nossa estirpe competir para ganhar e não para aprender, e não para dividir.

Generais enriquecem e se esquecem de quem os ajudou a chegar ao tão aclamado topo do mundo, mas, quando caírem, nenhum desses antigos fiéis seguidores estarão próximos para ajudar, pois é nosso não nos preocuparmos com os que estão abaixo de nós.

O amor será engarrafado, porém já existe em forma de pílulas, em pó, em doses pequenas. Ele é programado e não acontece acidentalmente como deveria ser; por simples vaidade nossa, que temos um medo de sermos vistos com alguém fora do que se pede, alguém fora dos padrões da vida. Ah sim, a vida!... Estará perdida, gasta e sem estímulo, nem mesmo meios para existir, pois preferimos, hoje, gozarmos sem pensar no próximo, sem consciência.

Se há jeito para isso não acontecer, sim há! Mas um preço muito valioso há de ser pago: a compaixão que o mundo necessita, o amor próprio consciente e o amor ao próximo sem limites, a verdade, a sabedoria saudável, a ajuda que não deve ser com intenções futuras, o respeito, a felicidade em vencer junto, precisaríamos excluir a vaidade e orgulho desenfreados, os braços dados a quem nos é diferente, o perdão, o sorriso, o abraço, a exclusão da vergonha de sentimentos simples e bonitos, a abolição da mediocridade e hipocrisia, o afastamento da materialização e etiquetamento de nós. Somos seres, feitos de carne como qualquer outro ser. Mas temos alma e precisamos alimentá-la, mantê-la. Assim, o futuro, somente ele, sorrirá para nós de braços abertos, como uma águia a planar no céu azul de outono; ou como um arco-íris a ser visto em dias de chuva, ou como o eclipse que fascina a todos, ou como a nevasca que diverte nos feriados de inverno.

A verdade do que precisamos melhorar, e em quê, não está nos livros (infelizmente), está dentro de cada um de nós, e apenas uma mão e um olhar observador têm o poder capaz de interferir nessa estrada misteriosa que temos em nossa frente.

Ainda há tempo de reverter o amanhã, que só chegará daqui a uns cinco anos, mas chegará e não perdoará se o hoje fizer rotina nos próximos encontros. Ainda tenho fé desse dia, e espero estar vivo e participar dele, não apenas vê-lo, pois só ver e não fazer nada para ajudar não tem graça, não nos engradece como um ser, como alguém que tem alma e vive a vida aproveitando-a, alguém que divide seu tempo para melhorar o que nele não tem como... Somente um pensamento meu, loucura é o que pode ser, mas muitos dos que lerem isso concordarão com trechos daqui, ou apenas ignorarão, assim como fazem quando vêem alguém pedindo um copo de água.

Não me custou muito expressar isso, apenas foi um dia necessário, apenas uma noite não dormida, apenas um medo, apenas um desejo, apenas a existência de minha fé.

Raphael Semog Ribeiro
Enviado por Raphael Semog Ribeiro em 13/08/2008
Reeditado em 16/08/2008
Código do texto: T1125699
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