DO ATO DE TRAIR, SEGUNDO MAQUIAVEL
Pelos idos de 1516, diretamente da bucólica Florença, depois de muito lucubrar sobre o comportamento humano e, no afã de agradar ao Magnífico Lorenzo de Médicis, príncipe da hora, Maquiavel, considerado o fundador do pensamento político moderno, enviou à Sua Magnificência a obra intitulada “O Príncipe”, (antes, 1513, ele já tinha agradado com a mesma obra Giuliano de Médici, tio de Lorenzo) onde ele deita uma série de “conselhos” que extrapolaram o seu tempo e que até hoje servem de parâmetro para o comportamento de grande parte da classe política vigente.
No capítulo XVIII, do livro acima referido, que trata de como os príncipes devem honrar a sua palavra, entre tantas passagens interessantes, tem uma que diz, que é louvável respeitar a palavra dada sem astúcias nem embustes. Contudo, é perfeitamente aceitável que não se dê muita importância à fé dada e que pela manha se pode cativar o espírito dos homens e, no fim ultrapassar aqueles que se baseiam na lealdade.
Ensina também, Maquiavel, que o príncipe deve saber utilizar bem a natureza animal, convém que escolha a raposa e o leão: como o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender dos lobos, é necessário ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para meter medo aos lobos. Por conseguinte, o senhor sensato não pode respeitar a palavra dada se essa observância o prejudique e se as causas que o levaram a fazer promessas deixaram de existir, principalmente, quando sabemos que “os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades do momento, que quem engana encontra sempre quem se deixe enganar”.
Maquiavel ensina ainda, que se deve ter ânimo para agir conforme os ventos da sorte e a mutabilidade das coisas que lhe ordenem; não se afastar do bem, se puder, mas enveredar pelo mal, se for necessário.
Isto posto, convenhamos, que os ventos da sorte empurre um cidadão e o eleja deputado federal ou senador e que lhes coubessem, além das benesses principescas um salário que de forma direta e indireta, o contempla com mais de cem mil reais mensais (fonte de informação da cifra do jornalista Villas -Bôas Corrêa), o que poderíamos esperar nós, simples escadas, diante dos nossos interesses, quando a mutabilidade das coisas ordenam se afastar do bem para enveredar pelo mal e por ordem do príncipe da hora ( que os mantém sob rédeas curtas) e conveniência dos que obedecem, as promessas feitas se tornem em vão e reduzidas a nada pela infidelidade dos que as fizeram.
O que é pior: coçar e trair é só começar. No mais, é assistir impassivo, a reencarnarão (em determinados aspectos) de Campos Sales, aquele presidente que conseguiu sanear as finanças do país, em contrapartida afetou negativamente a indústria e o comércio e dificultou terrivelmente a vida da classe média brasileira.
E qualquer semelhança é mera coincidência, esclareço que Campos Sales sentia-se na condição de um magistrado supremo e alheio às contendas partidárias. No entanto, no seu governo foi instituída a política dos Estados, que consistia numa troca mútua de favores entre os governantes estaduais e o governo federal. Com essa política Campos Sales buscava o apoio dos governantes e congressistas à execução de sua política financeira.
Diante do enunciado governamental, jactando-se do positivismo das medidas até agora adotadas, deixo no ar a pergunta, que, aliás, não é minha, mas foi feita tempos atrás por Mário Sérgio Conti ao então governo Sarney e que merece ser repetida: “Se o governo é austero e o país é rico, por que a sociedade está se desagregando?” Concorda comigo, caro leitor?