O Mistério da Senha
Ela foi ao banco retirar dinheiro. Precisava pagar a empregada e resolver umas coisinhas.
No caixa eletrônico, inseriu a senha: incorreta. Repetiu. Incorreta novamente.
Tô ficando doida? – perguntou-se.
Ligou para o marido:
- Você não me ama mais?
- Hein?
- Trocou nossa senha no banco...
- Não troquei, não.
- Estranho. Não consigo sacar.
- Tá. Vou ver lá na agência. Beij...
- Espera!
- Que foi?
- Então você ainda me ama?? – perguntou, rindo.
Ele foi até a maquininha e também não conseguiu acessar a conta. A senha estava incorreta. Alguém haveria mudado?
No banco, foi atendido por um caixa meio sonolento que não soube explicar o que houve, mas liberou a senha no sistema. Por telefone, pediu a ela que tentasse de novo. Nada! E, com a terceira tentativa, a senha foi bloqueada. Ele voltou ao caixa para liberar o cartão mais uma vez. O atendente pareceu surpreso:
- Seu Sérgio?
- Sim?
- Sua senha não está bloqueada.
Pelo telefone, pediu à esposa para fazer outra tentativa. Igual resposta.
- De quanto você precisa? Vou tirar aqui. Depois vejo o que é... tô meio enrolado agora.
Ela respondeu, ele fez o saque e voltou para a sua sala.
Mas aquilo ficou ali, pulga atrás da orelha, incomodando. Comentou o problema com os colegas:
- Ué! Alguém me disse que passou por isso ontem... – disse um deles.
- Quem? O que houve?
- Não me lembro quem foi, minha cabeça está uma coisa... Eu estava numa reunião e já havia vários colegas, e ficamos tagarelando. Alguém disse que deu problema na conta e mudou a senha direto na boca do caixa. Putz! Não lembro quem foi...
- Cara! Morro de medo de chegar na sua idade... Tu tá mais doido que o banco...
Mais tarde, resolveu tirar um extrato. Temia que o cartão pudesse ter sido clonado. Assustou-se com o saldo. Simplesmente não batia. A diferença era enorme.
Enquanto se dirigia ao banco novamente, leu o nome do titular da conta. Sérgio Antunes Fonseca, seu colega e xará.
Conferiu o cartão. Também era do amigo. As coisas começavam a fazer sentido. Faltava descobrir como o cartão dele havia ido parar em sua carteira.
Lembrou-se do almoço onde comemoraram o aniversario do chefe, dois dias atrás, reviu os garçons recolhendo os cartões dos convivas para cobrança e retornando depois com os canhotinhos para assinatura. Nessa hora deve ter ocorrido a troca.
Ligou para o amigo, explicou-lhe o que estava acontecendo e descobriu que ele é quem havia contado ao outro haver passado pela mesma situação.
Encontraram-se para desfazerem a troca no banco. Deram uma chamada nos caixas que os atenderam, sem verificarem suas identidades. Por causa da falta de zelo deles, trocaram senhas, tiraram extratos e dinheiro um na conta do outro. Uma verdadeira confusão.
O gerente se encarregou de desfazer as transações ocorridas durante a troca, sem a cobrança da CPMF.
Saíram mais aliviados e já combinando uma cervejada para comemorar o bom termo da história.
- Leva dinheiro! – um recomendou ao outro, quase em uníssono.