A viagem ao extremo.
Desconheço quem não se encante com uma estrada bem asfaltada seja em direção ao mar ou as montanhas, como numa manhã de primavera cujo ar ao entrar em contato com nossas narinas nos desperta o desejo de saboreá-lo como se saboreia o prato predileto, onde os raios do sol penetram entre as árvores que beiram a estrada proporcionando um encanto a mais na viagem.
Viajar é deixar a vida por um tempo, é deixar a casa, o trabalho, a rotina, é sair ao encontro do novo, do desconhecido, do inusitado. Quando viajamos nos livramos de um monte de cargas que nos deixam pesados no dia a dia, o stress dá lugar ao “relax”, os dias tornam-se infinitos, os momentos sublimes, os sonhos possíveis.
Mas a vida não é só viagem, sem a rotina e o trabalho, viajar não é possível, pois são esses elementos que geram condições para as diversões da vida. A rotina representa a disciplina, o dia a dia, a nossa capacidade de realizar tarefas e funções que vão gerar a continuidade da vida. O trabalho é o sustento, o responsável pela manutenção da rotina e o financiador das aventuras.
Ao analisar um pouco as pessoas percebi que algumas se dão apenas ao trabalho e a rotina, outras estão eternamente de férias viajando e, poucas conseguem manter um equilíbrio entre uma coisa e outra.
As pessoas que só vivem o trabalho e a rotina são aquelas que parecem que vão morrer e ficar devendo para vida. Viver para elas é uma batalha diária onde o déficit ao fim do dia acumula para o seguinte. São amargas e infelizes, buscam no ativismo o alívio para o desconforto gerado pela ausência de significância. Estão sempre ansiosas, angustiadas nada é capaz de trazer-lhes tranqüilidade permanente, toda paz é sempre muito momentânea. Os relacionamentos não são duradouros em função da insegurança e da incapacidade de desprender-se para o outro.
Já as que vivem como se a vida fosse uma eterna viagem, não param em emprego algum, pois o oficio é apenas uma função temporária para “descolar uma grana”, a rotina é pior que remédio amargo, uma penitência, um doloroso jeito de viver. Esses tipos de pessoas não têm planos para o futuro, não têm objetivos, estão como se o amanhã pudesse não chagar e vivem o hoje egoisticamente como se não lhes restassem mais nada. Seus relacionamentos são passageiros, sem compromisso. Pregam o direito de ser livre, mas são escravos do medo de fracassar, por isso preferem não começar nada. Estão sempre na “aba” dos outros para fazer qualquer coisa, não têm hora para dormir (a noite é uma criança), muito menos para acordar (esta história de que Deus ajuda quem cedo madruga não cola!).
Todos tendem para os extremos, conseguimos facilmente sair de um extremo para o outro, mas quase nunca para o ponto de equilíbrio. Porque ter equilíbrio é estar se analisando com sinceridade diariamente, é olhar no espelho e dizer a si mesmo hoje você passou dos limites. Algumas pessoas confundem ter equilíbrio com ser morno. Ser morno, é não ser nem quente nem frio, é ser indiferente. Equilíbrio, é saber quando ser quente e quando ser frio, é ter consciência de que a vida não é só trabalho e rotina mais também não é uma eterna viagem de férias. Somente com equilíbrio é possível se achar, encontrar significado para a vida, pessoas equilibradas são mais saudáveis emocionalmente, são mais realizadas, pois conseguem perceber o valor do trabalho e da rotina e a importância do lazer, da viagem e das férias para suas vidas.