CHEIRA CAMISOLA
Marielza já estava há muitos dias fora de casa quando a saudade bateu.
Estava cansada dos dias iguais, quando resolveu deixar a sua casa e a sua família para recarregar suas energias.
Agora, entretanto, havia exagerado. Pensou em tirar apenas uma semana e trinta e cinco dias se passaram, como num passe de mágica.
Tinha ido para o Rio de Janeiro visitar umas primas. Tudo estava tão bom, que sucumbiu ao convite para passar uns dias em Cabo Frio.
Empolgada com a viagem esticou um pouco mais. Se deu de presente, ainda, uma visita à Brasília para conhecer a capital federal. Afinal, tudo era longe de João Pessoa e esta era uma oportunidade única.
Tocou o telefone celular de Marielza.
- Alôô!
Marielza, não se contendo de alegria, virou-se para primeira pessoa do seu lado e falou:
- É minha filha.
E voltou a falar ao telefone.
- Leide, Leidinha tô morrendo de saudade de tu menina. tá tudo bem?
Leide respondeu qualquer coisa do outro lado da linha e Marielza, novamente, repassou a conversa.
- Leide tá perguntando se não volto mais pra casa, porque painho tá tronchinho de saudade.
Tapou a boca do telefone com a mão e disse:
- Tão todos morrendo de saudade, sabe porque?. Não porque estão sentindo a minha falta nada, tão sentindo a falta da minha comidinha, da cama arrumadinha, da roupa cheirosinha. Que se danem. Eles que se virem.
Leide continuou a conversa, repassada palavra por palavra para a desconhecida.
- Leide tá dizendo que painho num guenta mais. Tá tristinho que dá dó. Nem quer "cunversa".
E respondendo a Leide, concluiu
- Seu painho tá cum saudade? É? Manda ele cheirar camisola que passa.