Matar é a melhor solução
Estou escrevendo mais um romance. Ainda sem muita definição, vou procurando saídas.
É quando percebo que têm muitas personagens, e eu começo a sentir dificuldades para lidar com todos eles. São todos marginais de terno impecável, saído de alfaiataria requintada. Um coleciona quadros famosos, outro passa o dia num escritório da bolsa de valores, mulheres lindas desfilam glamorosas, e por aí vamos.
Tem gente demais, fatos demais e conduzir estes elementos está difícil. Faço uma contagem: quinze, quando os originais, em folha A4, estão na página 51.
Colocar todos estes tipos com vida seria tarefa para autor russo famoso, mas eu não me chamo Dostoievsky. Nem Hemingway, no seu “Por quem os Sinos Dobram”, que já li mais de oito vezes, abusou tanto. Tem Jordan, Maria, o velho Anselmo, Pablo, Cigano e a Pilar. Pilar em muitos momentos é mais importante do que o personagem principal, o dinamitador de pontes Jordan, toda a trama tendo como pano de fundo a guerra civil espanhola.
Meu gibi, modesto sem ser medíocre, está querendo competir com as grandes obras da literatura universal, pelo menos em número de pessoas que fazem os fatos girarem. Não dou conta de tantos.
Como voltar atrás é impossível, é melhor reescrever tudo, ontem mesmo, durante a calma e o silêncio da noite, comecei a fazer uma limpeza. Matei sem piedade um malandro que não servia para nada, e com esta creio que levanto o assunto, muitos outros sabem que pode acontecer a mesma coisa, aparecem suspeitos, ou seja, fiz uma revolução que não sei onde vou parar.
Ficou tudo mais fácil. Matar foi a melhor solução.