Resposta ao Tempo
“Respondo que ele aprisiona e eu liberto.
Que ele adormece as paixões e eu desperto.
E o tempo se rói com inveja de mim,
me vigia querendo aprender,
como eu morro de amor, pra tentar reviver.
No fundo é uma eterna criança,
que não soube amadurecer.
Eu posso, ele não vai poder, me esquecer.”
(Nana Caíme)
O que é o tempo, senão um meio de contabilizar a finitude humana. É interessante ver como as pessoas se relacionam com o tempo. Elas “correm contra o tempo”, tentando fazer algo o mais rápido possível como se o tempo pudesse se extinguir. Elas “correm atrás do tempo”, na tentativa de não perdê-lo de vista, imaginando que ele possa ser alcançado. Elas “lutam contra o tempo”, como se este fosse o inimigo feroz a ser abatido. Elas buscam “superar o tempo”, numa competição desigual, onde certamente seriam pegas no caso de um exame de doping. Elas procuram “recuperar o tempo perdido”, como se este fosse uma moeda que caiu no banco de trás do carro. As pessoas vivem se queixando da “falta de tempo”, como se o tempo fosse insuficiente tipo uma ficha de fliperama.
O tempo é então tratado como um “fetiche” (fazendo uso da linguagem marxista), ele se tornou uma mercadoria, um produto a serviço do grande capital. As grandes empresas nos ensinam como “lidar com o tempo” de modo a não “desperdiçá-lo”, ao contrário, devemos saber fazer o “uso correto do tempo”, ou seja, “ganhar tempo.” Quem cunhou pela primeira vez a frase “time is money” foi Benjamim Franklin, representando o país mais capitalista do mundo, a partir daí nunca mais se teve tempo para nada (até hoje os norte-americanos se entopem nos “fast-food”).
Quanto tempo ainda temos? O que fizemos com o tempo de nossas vidas? Outro dia ouvi uma entrevista do Niemayer dizendo que faria muitas coisas diferentes se pudesse “voltar no tempo”, ele críticava aos que arrogantemente dizem que fariam tudo igual se fosse o caso de uma segunda chance. Essa coisa de “voltar no tempo”, já rendeu muita grana aos produtores de Hollywood, dezenas de filmes trataram deste tema, a “máquina do tempo”, “perdidos no espaço”, “efeito borboleta”, etc., mas o tempo continua a ser uma incógnita para nós mortais.
Os arrependimentos dos atos passados ou da ausência deles, a idéia inerme de que não podemos “corrigir” o que fizemos há anos ou há dias atrás, nos causa angústia. O tempo está ou não a nosso favor? Ele nos impõe a cada amanhecer um dia a mais nas costas, o peso do envelhecimento aumenta e não possuímos o “elixir da juventude”. Alguns de nós se orgulham de como usufruíram o tempo, outros lamentam e sofrem por não terem sido tão hábeis.
Mas há os que respondem ao tempo à altura, que usaram sabiamente cada momento, que não se deixaram levar pela lógica do mercado tornando-se “prisioneiros do tempo”, ao contrário tornaram-se livres, amigos do tempo. Para esses o tempo não é uma “faca no pescoço”, o relógio (objeto bastante interessante de medir o tempo), nos sinaliza quando estamos atrasados ou adiantados, não é uma algema. Não importa o que perdemos, ou deixamos de ganhar e de fazer, importa que o simples fatos de estarmos vivos, nos possibilita dar uma resposta ao tempo, o tempo é o presente, o agora, se há alguma coisa por fazer este é o momento. Não significa dizer que se não realizarmos alguns sonhos seremos infelizes, quantos sonhos nossos são apenas vaidade. Responder ao tempo é viver, viver um dia de cada vez, viver usufruindo da vida, da família, dos amores. Responder ao tempo é sair pra pescar, é jantar com os amigos, é fazer aquele curso que você sempre quis, é matar uma tarde de trabalho pra vagabundar (eu ia dizer um dia inteiro, mas acho que vou ser linchado por uma afirmação assim.), é casar de novo, amar de novo, ou amar intensamente a mesma pessoa por anos e anos.
O importante é não deixar o “tempo passar” diante dos nossos olhos sem que reajamos a ele.
Jonatas C. de Carvalho
histosofia@gmail.com