Eterno
Carrego meu peito. Não carrego no peito, mas meu peito, e sinto que o que há dentro dele é meu; mas engano-me. Se pudesse ter meus sentimentos, os faria vir um de cada vez (sem atrapalharem-se), para que minha comoção diante do belo fosse realmente bela – e não meras palavras. Levantei. Por vezes tenho sonhos desse tipo, em que palavras sem nexo aparecem, correm minha mente; somem. Por quê? O que leva a desaparecer o que não tenho tempo pra identificar? Talvez, se fizesse um estudo, entenderia disso tudo (e um pouco mais), só que não quero. Pelo menos não por agora – deixem as palavras abertas em minha cabeça e lhes mostrarei como uma rosa morta pode voltar à vida (e olhem que isso aprendi com um pequeno menino; como é bela a infância). A confusão é a maior esclarecedora, me disse alguém certa vez - e que peso tem essas palavras.
Estava a caminhar hoje. Encontrei, em meu percurso, um senhor sentado em uma praça (talvez sozinho, mas não solitário). Numa dessas estúpidas (seria correto o uso desse termo? Ao usá-lo recorro a minha impressão primeira, e não a o que realmente tirei dali. Bom, deixe assim, posteriormente, se necessário, mudá-lo-ei o termo) atitudes do corpo, a que a mente não compreende (ou finge não compreender, ou sou eu que não compreendo), sentei-me ao lado do senhor, que prontamente se referiu a mim:
- Que fazes ao meu lado? Sai já daqui! Não vês que minha solidão é tua inimiga?
- Ora, porque me ofende, nobre senhor, se nada lhe fiz? Não lhe direi que a praça é pública porque isso é tão óbvio que nem merece ser dito (como sou porco: sem querer dizer disse o que não queria).
- Publica é, a praça; não minha vontade de ficar só. Não quero tua caridade: se há algo dentro de ti, sei que é a podridão, e não negue, falou com firmeza. Se ao meu lado senta, é porque pensou: “oh, coitado de tal velho, viveu por tantos, agora está só. Eu tenho, porém, uma novidade pra você: o tempo não acaba.
É indescritivelmente estranho que tantos episódios loucos e fora do comum aconteçam comigo (sim, meu “e” é aditivo, ou pensam vocês, pobres, que inexistem episódios comuns que são loucos? Basta que vejas a lógica de tua rotina que me entenderás. Não me prestei a contra-argumentar o que ele disse. Em partes, porque não me entendo com a dialética (isso é motivo para um outro conto, talvez escreva-o amanhã). Em “todos” porque existia verdade no que se disse. E eu, que sou cavaleiro dela, nego-me a negá-la (olhe que belo, duas palavras negativas lado a lado. Se a matemática lógica aqui estivesse, diria: tolo! não vês que quando negas duas vezes afirma?!). Frouxo, eu; insignificantemente, disse:
- Que asneira dizes, ó senhor: claro que o tempo acaba. Não é só porque o seu está acabando que tens o direito de agredir quem ainda o tem muito.
- Jovem... Disse o velho. O tempo não acaba: quem acaba somos nós.
obs: Perdoem, mais uma vez, a minha falta de atenção quanto à pontuação ou ordenamento lógico do texto. Creio que a idéia que deveria ser passada está ai. Obrigado.