Conspiração das Letras.
Eu estava em silêncio, não possso dizer emburrada, mas bem perto disso.
Era um entardecer friamente soturno, no silêncio da casa vazia e rangidos tímidos do vento gelado na janela de vidro.
De repente como uma estrela cadente uma idéia veio a mente, desligar a televisão saindo do hipnotismo alienado que essa exerce, cair na salvação do intelecto com alguma leitura inteligente. Peguei as revistas de mangá para ler a nova saga de aventura de um personagem que faz uma viagem intergalática sem sair de casa. Também quero ir!Posso?
Depois de acabar com o volume dessa semana, e ler coisas necessárias, o jornal, e a revista do mês, ainda não me sentia satisfeita. Das mais altas galáxias da imaginação aterrisei bruscamente os pés no chão da realidade violenta cruel.
Então o plano B entrou em ação: ouvir música, comer doce, e ver fotos antigas. Não deu muito certo, a tarde ficou mais fria, solitária, e nostálgica, deu vontade de rever 1001 pessoas, até aquelas que aparecem de costas ou de perfil em fotografias, aquelas identificáveis no escuro, as desconhecidas desapercebidas ao fundo, que por milésimo de segundo fizeram parte de um quadro capturado da minha vida.
Tive que ativar o plano C de emergêcia. Liguei o computador e entrei o mais rápido que minha conexão permitiu ao site do Recanto. Login e senha. Acessei meu canto. Comentários Recebidos. Encanto e espanto.
Decidi escrever. Me inspirei ao ler os textos daqueles que nem conheço.
Incluir texto; escrever.
Escrever!
Escrever?
Me vi caindo em "Largo Pianissímo Sempre da Primavera - Quatro estações de Vivaldi" as palavras borbulhavam dentro de mim como o Prestio de Verão, mas elas borbulhavam em fuga agora. Fui dominada pela falta de criação.
Oh não!
Foi-se mais depressa do que a sua repentina vinda. E como doi sua partida. Como se ela pudesse escorregar entre os dedos das mãos, como água te molhar a boca com desejo e escorrer pelo ralo do vazio, te deixando só em desalento e arrepios; de raiva, de tristeza, desapontamento.
Ela é silênciosa como vento matinal, mas é tão grande quanto areia da praia, montruosa em grãos. Os grãos são as letras, os castelos a poesia a escrita. Mas sua armadilha como areia movediça.
E estou eu novamente na sala vazia, em choque pela rapidez e domínio desse monstro silêcioso, dessa coisa indiscritivél, dessa conspiração das letras, a tela branca exige escrita, o papel pede frases completas. Não pontos e exclamações. Não fragmentos de nada, sem sentido. Não rabiscos e desenhos.
Na minha derrota adimito me vencida por hoje. Vitória apenas momentânea a dela, hoje derrubou esse projeto de poeta. Mas me vingarei em breve, com boas escritas, desafiando a cada palavra essa Conspiração maldita.