ANTENA DE PASSARINHO
Na antena de televisão da casa da Ritinha, aves pousam a todo instante, e da janela da minha cozinha, enquanto preparo o alimento da família, fico apreciando tudo, que lá acontece. O bem-te-vi tem um canto forte e repetitivo, e intimida os beija-flores, e as mariquitas, com a sua briga e grito. As sábias se agitam toda e possuem cantos específicos diante da presença de predadores, como gaviões e corujas!
No centro da minha cidade, os quintais deram lugar a edifícios, e, as árvores frutíferas ou não, foram arrancadas, e, nunca mais foram plantadas, mas, sobraram dois, ou três quintais, nos fundos da casa da Ritinha, e, da minha casa, que resistem ao tempo e as propostas das imobiliárias. Lá, jabuticabeira, junto com a mangueira e pitangueira alimenta com os seus frutos, as sábias, os sanhaçus.
O sanhaçu, ave de coloração azulada, vivia na Mata Atlântica e na região de serrado, ambientes degradados, principalmente nos últimos 50 anos, o que propiciou a sua vinda á cidade. Muitas vezes ao varrer o quintal encontro sementes, e até algum fruto pequeno, ainda inteiro, caído de algum bico incauto.
Agora até o joão-de-barro fixou residência no meu bairro, esse passarinho tido como inteligente e trabalhador passa o dia junto à fêmea, a "joaninha-de-barro", transportando grandes bolas de barro, amassadas com os bicos, e, com os pés, para construir a sua casa nos postes, ou nos galhos de árvores desnudas.
Conta-se que o joão-de-barro é muito fiel, já a "joaninha-de-barro" (ai, ai, ai...), muito leve, livre e solta, abandona o parceiro, quando encontra um novo amor, mas ao perceber a traição, o ciumento fecha a abertura da casa, sepultando-a para sempre.
Pois é, outro dia cinco deles pousaram na antena da Ritinha, e, fizeram com o seu canto, algo mais parecido a uma gargalhada, um alarido ensurdecedor, tudo porque disputavam uma única fêmea. Ela, indiferente ao acontecimento pousava ora num ponto, ora em outro, levando os brigões a balançar a antena, pra lá e pra cá, pra lá e pra cá... Fechei os olhos e me senti no picadeiro do circo, rindo com as gargalhadas dos palhaços.
A antena da minha vizinha deveria ser tombada pelo “Patrimônio Histórico” da minha cidade, assim, como as poucas árvores remanescentes dos quintais do meu bairro, então, dessa maneira, ninguém poderá derrubá-las e por muitos anos, irão permanecer fazendo a festa da passarada e dos seres humanos, agraciados pelos encantos da natureza, agora, infelizmente, ainda mais urbana!