A fragilidade da humanidade.
A vida é mesmo um vapor? Num momento estamos no ônibus, carro, elevador, rua escritório, casa ou qualquer outro lugar. No momento seguinte, podemos estar em um hospital, cemitério ou necrotério. A questão aqui é quem determina o instante seguinte, o próximo minuto? Quem decide que tragédia ocorrerá, com quem e que tipo de acidente se dará? Se um Boeing explodirá no ar, um trem se descarrilará, se um transatlântico colidirá com um iceberg ou se um automóvel derrapará na pista. Quem decide sobre fenômenos naturais devastadores; furacões, vulcões, maremotos, terremotos? Se alguém cai de uma árvore, tropeça numa casca de banana, sofre um infarto é por que chegou a hora? Quem decide quando e como? Um parto complicado, uma pipa com cerol que toca o fio de alta tensão, uma bala perdida!
Existe esta coisa de estar no lugar errado na hora errada? Seria ironia do destino? Causalidade ou pré-destinação? Teoria do caos, lei do equilíbrio, forças da natureza.
Um fator que perturba a raça humana ao longo dos anos é sem dúvida sua própria vulnerabilidade. Como seres tão especiais capazes de desenvolver projetos dos mais sofisticados possíveis pode ser paradoxalmente tão frágil? Como se pode ser excessivamente auto-suficiente e particularmente impotente?
Não se pode abordar um tema desses sem passar pela especulação, sem dúvida antes da ciência se apropriar desse tipo de debate, culturas de todos os tipos estabeleceram explicações metafísicas na tentativa de explicar quem determina o tempo de nossa existência. Vontade ou vingança dos deuses, a luta entre o mal e o bem, a introdução do pecado na sociedade, maldições e muitas outras respostas pairam no ar. Foi justamente este o ponto de partida para o desenvolvimento das teologias e filosofias que por ai estão difundidas no imaginário coletivo em formas de folclore e rituais religiosos. Foi o fato de sermos tão vulneráveis, tão descartáveis que provocou na raça humana uma necessidade de afirmar que de alguma maneira este não seria verdadeiramente o seu fim. Tem de haver outra possibilidade, outra vida, uma continuidade, não é possível que existamos para voltar ao pó! Estas indagações levaram nossa espécie a encontrar respostas que pudessem dar algum tipo de conforto ao espírito humano quando chegar o fim. Os vermes tomarão conta de tudo! Putrefação, decomposição, termos encontrados ou criados para dar significado ao que somos enquanto matéria; podres.
Mas não é somente a existência que intriga a espécie humana, o que mais incomoda é a consciência da existência, a individualidade o surgimento do ego, da singularidade. Podemos afirmar que a individualidade procede da cultura, mas como uma cultura desenvolve estes valores individuais?
Quantos já partiram sem sequer ter tido a oportunidade de usufruir a vida, quantos se foram sem ter tido tempo sequer de indagar; por quê? Vontade divina? Como disse Nietzsche, Deus é uma criança a brincar com seus bonequinhos ou um velho caquético esclerosado que não tem noção do que esta fazendo, matando milhares por dia aleatoriamente.
Dificilmente se chegará a uma resposta convincente, até mesmo porque ela provavelmente não exista. O que há, são respostas convincentes para os mais variados tipos de pessoas. Isto porque não pode haver uma só verdade, nua e crua, intolerantemente verdadeira. Certamente há indagações que não haverá resposta que seja suficiente, mas é certo também que construímos nossas respostas baseadas em nossas crenças e valores. O que demonstra que a compreensão das idéias está intimamente relacionada com nossa cultura. Não imaginaríamos a vida pós morte, sem o evento da própria morte, construímos, porém um pós morte imaginário a partir do que possuímos enquanto conceito de uma vida melhor (céu, nirvana) ou pior (inferno, purgatório). De qualquer modo, o que fica de tudo isso é o quanto somos frágeis e limitados. Frágeis por que podemos desvanecer de uma hora para outra, limitados porque somos incapazes de lidar com tal fragilidade.
Jonatas Carval
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