cheiro de noite,olhos de apartamento
Três horas da manhã.
Ela acordou com o vento que, além de balançar a cortina de voal, lambeu-lhe as pernas a causar arrepio n’alma.
Marina levantou e foi para a varanda ver cor de noite.A morena dos olhos negros sentiu o vento e o cheiro que vinha dele.Viu o silêncio dos prédios,ouviu as luzes acesas e, ficou a imaginar o que aquelas pessoas faziam acordadas.
Alguém chegou a uma das janelas.Era um homem, apesar de não poder ver nitidamente o seu rosto,era claro, bem branco.
Ficaram a olhar,um ao outro, por instantes.Depois,devoraram-se.Apesar da distância e da falta de nitidez, os olhos haviam se encontrado.
Ela não sabia o nome dele. Ele não sabia o nome dela.
Ela fingiu que iria sair, que ia voltar pra cama, e ele ,num gesto quase desesperado, fez seu corpo chegar mais para frente, quase se deixando cuspir pelo prédio.Ela ficou.
Foi quando uma outra luz piscou no apartamento do admirador,ele não estava sozinho.
Vendo a sombra, Marina foi embora, deitou no travesseiro já gelado e deixou dormir com olhos do vizinho que grudavam nos seus.