Série "Ditados na berlinda" 10: Cabeça vazia, oficina do diabo?

Desde que ouvi pela primeira vez alguém dizendo que “a ociosidade é a mãe de todos os vícios”, fiquei tentada a acreditar e, o que é pior, nunca me dar espaço para o nada fazer. Evidentemente, nos dias atuais, mesmo que eu queira um espaço minúsculo desses, é com muita dificuldade que o consigo, e sei que esse é um mal (ou um bem, de acordo com o ditado) que afeta a todos nós hoje em dia.

Mas a vivência, muito além da degradação física, tem lá suas vantagens. A vida me ensinou que não, que a ociosidade sadia é fonte de idéias novas e de recuperação mental. Domenico De Masi, sociólogo italiano, não só defende esta tese como desenvolveu-a de forma brilhante em seu livro “O ócio criativo”. Para ele, é necessário termos um tempo só nosso, no qual possamos fazer coisas que nos dão prazer e que abram nossas mentes para o novo. Ele ainda afirma que os tempos vindouros e o desenvolvimento da tecnologia da informação farão com que o ser humano tenha mais tempo livre, que será usado em benefício próprio. E que, em breve, as pessoas não farão tanta distinção assim entre trabalhar, estudar e se divertir: as coisas se misturarão e o homem, segundo sua promissora tese, será mais feliz e menos escravo de seu trabalho.

Espero que De Masi esteja certo. Mas já sei que minha professora de yoga também está: a cabeça vazia não é, de forma nenhuma, a oficina do diabo. Ela é a sala de estar de Deus. Porque apenas esvaziando por completo a nossa mente somos capazes de nos conectar com o divino, de ter consciência de nossa pequenez e, ao mesmo tempo, de nossa grandeza: isso se chama meditação. Diferentemente do senso comum, a meditação não é o pensamento insistente num determinado assunto, que nos leva a tomar decisões; meditação é pensar em nada, absolutamente nada - coisa dificílima para nós, ocidentais, mais ainda para os urbanos e ainda mais para os ansiosos. Meditar é conseguir desconectar nossas mentes e simplesmente ouvir a respiração ou o batimento cardíaco, sem pensar em nenhum instante na dívida do cartão de crédito, no cesto de roupas sujas ou na vizinha gostosa – apenas sentir o corpo como um todo, e não partes (salientes) dele.

Assim, na próxima vez que alguém lhe disser algo do tipo “você é um cabeça oca”, devolva um belo sorriso de agradecimento: finalmente alguém reconheceu que você é um meditabundo profissional! E se quiser, responda com classe: “Na minha cabeça oca cabem muitas idéias novas. Já na sua cabeça superpovoada...”