Meu pai

Eu tive toda uma vida de ensinamentos com o meu pai. Com ele eu aprendi o que é a bondade, o que é a justiça, aprendi a ter coragem, a ouvir, a me fazer ouvir.

Suas estórias resumiam toda uma vida, experiências do viver, ensinamentos do dia-a-dia.

Sua estórias, apesar de simples, singelas, parecidas com tantas outras estórias, transmitiam ensinamentos de vida, continham força, amor, bravura.

E eu as ouvia, tantas vezes ele as contasse, e a cada vez eu acrescia um pouco dos conhecimentos que eram transmitidos. E a cada vez eu mais o admirava. E amava.

Com ele aprendi um pouco da vida, O conhecimento que não veio por seu intermédio chegou através dos caminhos que ele indicou e abriu.

Não só a instrução eu devo a meu pai. Devo a ele toda a minha vida. Devo a educação que hoje transmito aos meus filhos, na esperança de que ele o façam com os seus.

A bondade e a simplicidade no viver eram virtudes que se espelhavam em seu rosto.

E aqui eu peço licença ao compositor Sérgio Bittencourt, para fazer minhas as suas palavras, quando se referiu ao seu pai:

“E nos seus olhos era tanto o brilho,

que, mais que seu filho, eu fiquei seu fã”.

...

“Naquela mesa está faltando ele,

e a saudade dele está doendo em mim.”

Sim. Ele não está mais naquela mesa, a esfregar suas mãos quando se emocionava, num gesto característico, gesto este que eu adquiri, de tanto o ver fazer, de tanto sentir a emoção que se transmitia naquele esfregar de mãos.

Naquela mesa está faltando ele. Ou melhor: está faltando o corpo dele. Ele está presente aqui. Agora ele está no coração de todos nós. E aí residirá pelo resto de nossas vidas.

A bênção, pai.

10/05/1996