FRUSTRAÇÕES CONFESSÁVEIS
Quem neste mundo de meu Deus não tem guardando dentro de si algumas frustrações...Eu tenho um magote delas e não tenho pejo de confessá-las. Enumero, então, três delas:
Gostaria de ter um guru particular para pensar por mim, um do tipo do imortal Paulo Coelho, que me contasse parábolas e as explicasse, feito a da galinha e o faisão: conta o escritor que a galinha se dizia satisfeita sendo alimentada e bem cuidada presa dentro de um galinheiro e o faisão dizia-se satisfeito sem comida e sem cuidados, mas livre leve e solto . E fim da história.
Gostaria – para atender as recomendações do doutor que cuida do meu coração – de ter um treinador pessoal, para ser mais chique: um personal trainer, que me arrancasse da cama logo cedo e me pusesse para correr no calçadão de ponta negra logo cedo.
Gostaria de ter dentro de minha cozinha uma nutricionista que cuidasse do meu cardápio diário, isto por que li no manual Food and Nutrition, que todo dia um trilhão de células de nosso corpo se decompõem e precisam ser substituídas e que esta substituição se faz através de uma boa alimentação.
Sobre este último GOSTARIA aí de cima, tentei solucionar e sem a devida orientação de uma nutricionista resolvi entrar numa dieta correta e nutritiva, livre de alimentos contaminados com germes e toxinas. Mas veja só no que deu:
No quebra jejum me serviria de café, leite, ovos, pão e queijo. Ai pensei... A cafeína me fará bem? Há quem diga que sim, há quem diga que não. O quanto me será nocivo os coliformes fecais encontrados no leite e a sua embalagem revestida de alumínio? Ovos..., não posso; a gema eleva o colesterol. O pão. Ah, o pão nosso de cada dia! Este eu comeria. Foi ai que me lembrei do bromato, mas o queijo branco de Minas eu posso. Posso? E as bactérias nocivas comprovadas nas análises de laboratório exibidas via tv? Satisfazia-me com um copo d’água? Só que das torneiras tenho as minhas reservas; mineral, fica difícil, perdi a lista com os nomes das marcas contaminadas.
Manhã de barriga vazia, melhor seria cuidar do que comer no almoço, desde que este não fosse feito em panelas de alumínio nem servido em pratos de porcelana pintados. Todo cuidado é pouco com os radicais livres. E que este almoço seja composto de feijão, arroz ou macarrão, carne ou peixe e salada. Foi quando me lembrei da taxa de triglicérides nas alturas; melhor esquecer as massas...Um, dois, nem feijão nem arroz, macarrão, nem ao alho. E as carnes? A vermelha aumenta o ácido úrico, além de difícil digestão. O frango se não fosse recheado de hormônio até que era um bom prato acompanhado de uma salada de verduras, isto se estas não estivessem contaminadas com agrotóxicos. O peixe. Gosto. Só não gosto de saber do quanto faz mal os resíduos de metais pesados que a sua carne retém. E os enlatados? Nem pensar, morro de medo de botulismo.
No fim da tarde, para aguardar o jantar, um drinque que ninguém é de ferro. Sim, já sei, nada de bebida fermentada.
Mas o que jantarei? Só se for um copo de guaraná do Amazonas acompanhado de um coquetel de vitaminas sintéticas com efeito antioxidante. O danado é que a vitamina A pode atacar o meu fígado; a C tem a capacidade de camuflar qualquer doença que eu possa ter e a E pode me causar hemorragia.
Panelas vazias, cozinha limpa e arrumada, só me resta dizer...Ai que fome! Que por sua vez faz lembrar Maria a passedeira de minha casa, que costumava dizer prás crianças dela quando reclamavam de fome: vá dormir que passa.
Vou acatar o conselho de Maria passadeira e irei dormir, mas se não passar, amanhã... Bom, amanhã é outro dia, mandarei às favas a minha dieta e com certeza serei a primeira freguesa da “Buchada do Bode”, cujo reclame vi pregado num poste da Alexandrino de Alencar., aqui perto de casa.