A Bichinha de Pequim
Pequim, agosto de 2008. Aficionado por esportes, desses que passa o final de semana inteirinho na frente da televisão, acompanhando todos os campeonatos e torneios pelo mundo, Roque não podia conter a alegria quando a esposa aceitou sua proposta de torrarem as economias na viagem para acompanharem os Jogos Olímpicos.
Com quase duas semanas de antecedência já estavam de malas prontas, tamanha a ansiedade.
Chegaram à China na segunda-feira, dia 04. Adotaram logo todos os programas favoritos dos turistas ocidentais: compras. Compras e mais compras de todo tipo de bugigangas. Muito falantes, fizeram logo amizade com um dos empregados do hotel, que os levou aos bairros mais afastados e menos visados pelos visitantes. Na manhã da véspera da abertura dos jogos, ainda perambulavam pelas ruas quando viram um chinês usando botinhas pretas, shorts jeans muito curtos, desfiados, uma blusinha rosa choque justinha, caminhando à sua frente, sob uma sombrinha colorida, muito comum entre as mulheres chinesas. Rebolava, contrastando com o pisar suave dos orientais, agarrado a uma bolsa vermelha, grande. Roque cantarolou para a esposa, certo de que não seria entendido:
- No Ceará não tem disso não, tem disso não, tem disso não*...
A bichinha oriental virou-se para trás radiante:
- Aaaaiii! Vocês também são brasileiros!!!
Fechou a sobrinha e lançou-se, braços abertos, sobre eles:
- Ai, que saudades de casa!!!
* Luiz Gonzaga (No Ceará Não Tem Disso Não)