Pai -"A vida é para quem voa, correr é se arriscar"
"A vida é para quem voa, correr é se arriscar"
(Baldoíno Fulber 02/03/ 1918/ 04/08/19987)
Virgínia Fulber
Saudades desse Beija-flor !
Uma caligrafia esmerada, traço fino e delicado.Sua assinatura, um primor.
A beleza, o senso estético apurado o domesticou, fascinado por uma bela mulher este homem de alma poética e espírito livre, criou raízes.
Deleitar-se ao relento, absorver estrelas, permitir ao canto do coração encontro com a salvação e, asas para sobreviver ao encanto da sereia que o aprisionou.
Um pescador incurável, apesar da bronquite queria nadar, queria viver e dormir sob a relva . Escutar o silêncio das noites através do luar!
Parava o barco no meio do rio, ou laguna e dizia-nos;
-” Ouça o silêncio, ouça o rio, ouças as aves, ouça ! Escute o Mar, as ondas, escute e sinta ! “
Escutar> foi a palavra que mais ouvi de meu pai! Nas viagens de carro- “Psiu ! quietinhos , escutem e admirem a paisagem através do luar... “
Quando nos ensinava a dirigir _” escute o motor do carro “ Escutar
“ auscultar”!
Pai um homem artista, gostava de fazer artes em destroços, arte hoje denominada , “reciclagem” . Adorava reciclar, recolocar em Ciclo, dar vida ao que estava desprezado estilhaçado.
Um tronco virava escultura! Um relógio velho virou escultura em homenagem à APOLO XI, ida do homem à lua ! Uma conquista, façanha em minha casa comemorada e registrada data e hora .o relógio parado, marcandoo momento em que o homem pisou a Lua!Homem de calma inabalável, concentrado em seus estudos, adorava cochilar no banco do jardim após o almoço. A noite, antes de dormir a música era indispensável. Homem fiel a uma mulher, homem infiel as suas Asas que mesmo em conflito o alçaram em demasiada quietude e distanciamento das banalidades de seu tempo. Sofreu, viu ignorância e perdeu a vontade de ver mais.
Na perda dum segredo, encontro com águas e mais sal . Homem sensível, homem severo, correto, com inseguranças e carências normais . Perdeu sua mãe cedo.
Seu pai casou-se novamente foi –se com a nova esposa.
Com já idade avançada e pouca saúde viajou de carro a um Estado vizinho para buscar os ossos do pai e juntá-los aos de sua mãe, tentando reconciliando as almas ?
Um pai brincalhão. Filhos pequenos seu paraíso, encantava-lhe travessuras, leves, delitos faziam-no rir de boca fechada, em sorriso maravilhado .
Um homem com fé na eternidade .
Ensinou-nos a nadar, pescar, ao estimular os esportes e no contato com a natureza queria deixar sua herança, amor e respeito à vida e a liberdade .
Falava mais por metáforas e por atitudes firmes e ao mesmo tempo serenas.
Viajar, conhecer culturas distintas seu entusiasmo !
Compadecia-se dos fracos e oprimidos socialmente, os humildes admirava, tentava aprender, sobre plantas, chás, verificar, estudar hábitos culturais. Este homem andava geralmente com delicadezas em seu carro para presentear os humildes que encontrava pelo caminho. Jamais ia a um bairro pobre sem regalos à oferecer, compadecido das infâncias sofridas.
Um pecado; roubou uma muda de planta rara de uma vizinha para presentear à florista ! Outro ”pecado”- ensinar sua amiga ,uma professora, solteira de uma pequena cidade a dirigir motocicleta por volta de 1935 . Outro mais> vestir-se de mendigo( tornava-se irreconhecível !) na praia, época de veraneio e, ir à casa dos amigos “esmolar” , para ver a reação dos “burgueses” em roda de aperitivos, o que causava tremenda indignação a minha mãe ,que estava, entre os amigos. Adorava representar. Amava o teatro e as apresentações circenses inclusive !
O maior pecado _ contra si mesmo, pensar que a burguesia que o cercava poderia compreendê-lo em suas delicadas e inteligentes sugestões !
Um homem, pai trabalhador, competente, admirado, mas este é outro homem neste Pai , é um cativo, tenso ,rígido , quase não cabia entre as asas de um só que existia , resistia nele a multiplicidade e sofria !
O meu Pai, enquanto pai, enquanto eu estava em formação, tempo de crucial importância foi para mim o verdadeiro no homem, homem ,PAI e amigo !
Amante da música erudita, do requinte do paladar, naturista, ecologista, filosófico e um pesquisador audacioso, sempre além de seu tempo. Cientista que criou máquinas e inventos pouco entendidos na época e que hoje são utilizados no cotidiano. Um professor, instrutor rigoroso e exigente com a sensibilidade dos demais por sentir-se profundamente só em seu saber/ver e antever . Seus poucos aprendizes , os que respeitaram a Luz deste homem, são homens de sucesso pessoal e profissional. Um homem que sabia dizer não. Somente à sua “princesa” lhe faltara sempre a palavra limite . A ela cedeu uma vida, um tempo de sua existência .
Abandonou-nos prematuramente e, pôs-se a voar!
A este meu Pai eu agradeço por incentivar-me a adentrar na vida com coragem de ser ainda um tanto inocente, um tanto poética, um tanto amor e mais que tudo almejar a liberdade para mim mesma e todos que me cercam.
Passou-me este PAI o sentimento de respeito a tudo que é vivo e, em sabedoria essencial ensinou-me a partilhar com aqueles que aprendem e querem ouvir,sentir, perceber a divindade e a perfeição no que simplesmente é.
Virgínia f. de além mar 08/08/2004
“A vida é para quem voa, correr é se arriscar”
(Baldoíno M. Fulber In caderno de notas 1940 aos /vinte e dois anos de idade-)
Em um lindo jardim voava borboleta multicor,
Leviana divagava, repousando em cada flor.
Simples cravos belas rosas,
Bem depressa foi cheirar,
Flores estranhas formosas
Cega queria provar
Mas, de repente estremece /
Veneno fatal tragou
A borboleta falece
Na mesma flor que beijou
O prazer de viver livre
Sempre querendo gozar
Pensando buscar a vida
A morte haveria de achar “