NA CASA DA AVÓ DE JESUS

Na Casa da Avó de Jesus

* Miguel João Simão

Era o último domingo do mês de março.

Era outono.

Outono que vem e que traz a melancolia das folhas secas caídas no chão.

Outono que chega com o calor do verão e se despede na noite fria de inverno.

Mas é o outono, a estação que prepara as copas das árvores, galhos cheios de folhas e de barba de velho para agasalhar a passarada que irão construir seus ninhos.

É o outono, a estação da transformação.

E foi então, nesse recomeçar da transformação, nesse 30 de março que reabriram as portas da casa da Avó de Jesus.

O caminho lembra em caracol. Quem sai do Centro rumo ao Porto do Moura, percorrendo a estrada, logo de início vê a Igrejinha sentada no topo do morro, mais uma volta e ela desaparece, mas logo em seguida uma nova curva que antecede ao morro e então no início do morro está a casa de Santa Anna.

No alto do campanário o sino chama os fiéis, avisa os romeiros, alerta o povo que a banda Tijuquense de músicos vai tocar em sua homenagem.

É a festa de inauguração da grande reforma da mais rica obra construída em 1904 naquela cidade. Obra que trouxe ao século XX a marca do trabalho de famílias que depositaram ao pé do morro a fé, a devoção e a vontade de ter um lugar de acolhida, para as preces depositadas ao altar junto a imagem Sacra da Avó de Jesus.

Um século a serviço da fé cristã. Um século de história, deixada pelo povo humilde e amigo de Canelinha.

Nesse século que passou, quantas lágrimas deixadas em seus bancos na despedida triste da dor pelos entes queridos que partiram.

Quantas orações em frente a velha Imagem em busca de harmonia, de curas, de agradecimentos.

Os casamentos que ali foram testemunhados e os batizados de crianças que cresceram com a proteção de Santa Anna.

Bênçãos da primeira Eucaristia aplaudidas pelos pais e padrinhos que viam os adolescentes renovar o Santo Batismo.

Quantas bênçãos! Quanta alegria, quanta tristeza, sorrisos e lágrimas que se cruzavam testemunhando o contraste da dor e da felicidade do homem e da mulher de Canelinha.

Tudo, tudinho, lembrado por descendentes dos idealizadores da obra nesse dia de festa, de comemoração.

E nesse dia estava eu presente marcando o momento de alegria dessa gente que sorridente, recebiam para seus louvores a igrejinha do morro como é conhecida a casa de Santa Anna, aquela que foi a avó de Jesus.

· Escritor e Historiador - Presidente e Fundador da Academia de Letras de Governador Celso Ramos;

Presidente da ALB/SC (Academia de Letras do Brasil para Santa Catarina)

Membro da Academia de Letras de Biguaçu;

Membro da Academia de Letras de Canelinha,

Membro da Oficial Academia Tijuquense de Letras