FALA QUE EU TE ESCUTO
Não sei se ainda persiste, mas antigamente não existia um porão, um buraco na Inglaterra que não tivesse ratos como inquilinos – e aí eu me refiro a designação comum dos mamíferos roedores, miomorfos, murídeos, cricetídeos, que apresentam os molares com a fórmula 3/3 – mesmo assim a Saúde Pública inglesa não acreditava, na época, num surto de peste bubônica. O único transtorno que a “rataiada” causava dizia respeito à família real: roíam as roupas de Suas Majestades, pondo à mostra, vez por outra, suas intimidades.
Situação similar vivemos nós neste malamado queijo suíço chamado Brasil. Só que os nossos ratos pertencem a família do homo sapiens. Nesses o bacilo de Yersin atua com mais eficácia, a peste alastra-se com mais facilidade e indiscriminadamente. Dir-se-ia que tal mamífero, para sobreviver não escolhe a vítima, infecta políticos, policiais, advogados, juízes, jornalistas, entidades filantrópicas, artistas, bispos, bispas etc. etc.
Reconhecendo a gravidade da peste temos que fazer como na historinha do conto infantil denominado “A Flauta Mágica", onde o flautista encantava os ratos tocando o seu instrumento. E assim procedendo, certa vez socorreu os habitantes de uma cidade, conduzindo os ratos para dentro de um rio. No nosso caso, na falta de um flautista mágico, temos mesmo é que contar com os préstimos da “ Pê Fê” que tem se mostrado o bastião da ética, da moral e dos bons costumes– se bem que a exigência de tais “virtudes” não é levada muito a sério nas instâncias superiores, haja vista os recentes acontecimentos: e lá se vai madrugada à fora, conseqüência do “fala que eu te escuto”, mais uma operação, e aí é um tal de prender ratos grampeados, que são algemados e engaiolados, para na parte da tarde serem contemplados com habeas corpus e irem pra rua passando novamente a roerem, livres, leves e soltos os infindáveis recursos da viúva.
Mas, o que se há de fazer, brasileiro é tão bonzinho... Só nos resta aguardar o desfecho dessa peste, comendo pizza, com um olho na dita e outro nos ratos, esperando que um dia, seja pra valer o que diz a modinha carnavalesca ora plagiada: “ Você roubou demais e pra seu castigo o senhor juiz quer falar contigo”. E aí eu indago: quer mesmo, quer...?
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