Dor de Cotovelo

"Perdi, mais uma vez

Agora quero prosseguir em paz"

Paulinho da Viola – Perder ou Ganhar

Perdi.

Não foi uma derrota vergonhosa. Ao contrário, lutei bravamente até o último minuto, tentei de todas as formas, esperneei como se minha vida dependesse disso. Embora normalmente regida por instinto e elementos da natureza, desta vez usei da inteligência, defini estratégia e estudei cada gesto meu e dele. Dei o melhor de mim, explorei minhas melhores armas e abusei de suas fraquezas. Coloquei rédeas curtas neste meu jeito disperso e, confesso, não sem esforço, consegui manter o foco, uma inédita e importante concentração. Corri como louca, defendi bem, ataquei quando possível.

Não bastou, a despeito das chances de vitória que desperdicei.

Depois de liderar o primeiro set por quatro a um, deixei-o encostar e fechar num fácil tie-break. No segundo set dei pouco trabalho e ele fechou em seis a três. Amarelei? Cansei? Desisti? Não. Ainda pior: senti. Dor. Incômoda e crescente no cotovelo direito. Ela começou há algumas semanas, quando meu professor iniciou um trabalho para corrigir minha movimentação do saque. Conseqüência deste processo, forço a articulação do braço para obedecer as orientações do amado mestre sem abandonar os vícios adquiridos nos últimos dez anos como praticante amadora do tênis.

Agora, além da dor de cotovelo, amargo o medo. Sei que uma das principais causas de abandono do esporte de Guga é o chamado "Cotovelo de Tenista": uma tendinite recorrente agravada pelos impactos da bola na raquete e sua propagação pelas articulações do jogador. Passei todo o dia alternando gelo, água quente e cotoveleira com antiinflamatório. Percebi pouca melhora, mas morro de medo de ir ao médico e ouvir o diagnóstico definitivo, a sentença pavorosa: fim dos meus dias de lindos saiotes curtinhos permitidos a uma mulher da minha idade, somente quando acompanhados de raquetes e bolinhas. Fim de uma das minhas maiores paixões na vida.

Mas, otimista incorrigível que sou, os versos finais de Perder ou Ganhar , enchem meu coração de esperança:

"Tudo de bom pra você

Eu desejo porque

Sei perder e ganhar

Felicidade

Há de voltar para mim

Vou me livrar da tristeza

Com toda certeza

Um dia ela pode ter fim".

Esqueço a derrota de ontem. Agora estou em outra batalha.

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Escrevi este texto ontem à noite. Hoje, meu cotovelo está bem melhor e penso que em breve poderei voltar às quadras.

A má notícia é que agora penso que sou uma jogadora tão ruim, que nem o meu cotovelo é de tenista.