NOSSO BARZINHO ESTÁ DE VOLTA !!!

 

    Sem direito a trombetas e tapete vermelho, finalmente nosso barzinho foi reaberto. Foi totalmente reformado, tendo seus proprietários, o simpático casal de portugueses , substituído o tampo do velho balcão, as mesas e as cadeiras, além de ter instalado enormes espelhos pelas paredes. Houve também uma magistral reforma nos banheiros, louças belíssimas e pisos e azulejos de magnífico bom gosto.

    Pude observar que no canto em que antes costumávamos juntar nossas mesas, instalaram um pequeno balcão refrigerado onde o cliente poderia escolher alguns tipos de saladas e molhos.

    Nas mesas, as toalhas de papel também foram substituídas. Agora eram de um vermelho vivo e de um tecido que parecia ser de linho. E também colocaram um som ambiente, onde podia-se ouvir uma sequência de ótimas músicas orquestradas.

    Das mesas já não se via a entrada da cozinha e nem podia se ouvir as reclamações da antiga cozinheira, que soube que inclusive tinha sido substituída. Percebi, com grande surprêsa, dois garçons impecavelmente vestidos e um deles nos recebeu na porta de entrada e ao sentarmos, nos entregou dois belos cardápios ilustrativos.

    Quer dizer ,  para nossa surpresa, o nosso barzinho querido tinha se transformado num belo restaurante, com serviço de cardápio, garçons vestidos como almofadinhas, além da inclusão de uma ilustre coleção de vinhos nobres.

    Ainda boquiabertos, eu e dois amigos pedimos chope e uma travessa de bolinhos de bacalhau. Fomos surpreendidos pela explicação do garçom de que não estavam mais servindo bolinhos de bacalhau e nem chope. Só petiscos, aliás um rodízio de petiscos e cerveja de uma marca específica, quer dizer, a mais cara.

   A surprêsa e o deslumbramento se transformaram numa decepção. Não estávamos à vontade. Gostávamos e tínhamos saudade daquele tempo em que podíamos juntar as mesas e conversar diretamente com o português dono do barzinho. Aliás, ele estava irreconhecível.

    Tinha cortado os cabelos e raspado os bigodes. Não era mais o mesmo. Nosso barzinho não era mais o mesmo. Estava completamente desfigurado.

    Uma enorme onda de nostalgia tomou conta dos nossos corações. Com aquela reforma, foi para um passado distante várias das melhores lembranças de nossas vidas. As piadas, as brincadeiras, as apostas ridículas que fazíamos. Quer dizer, nossas sextas-feiras não seriam mais as mesmas.

    Tínhamos contado os dias para a reabertura do bar. Sempre com água na boca só de pensar nos famosos bolinhos de bacalhau e agora, naquele lugar elegantérrimo não tinha chope, bolinhos de bacalhau e com certeza, não poderíamos falar em voz alta. E nem contar piadas, nem rir e muito menos dar gargalhadas.

    Está certo que na vida tudo tem que evoluir, mas por que acabaram com nosso barzinho ? A graça de estar ali era justamente aquela sensação gostosa de estarmos completamente à vontade, de nos sentir em casa. Era ali que afrouxamos os laços das nossas gravatas e pendurávamos nossos paletós em enormes pregos que ficavam bem ao lado das nossas mesas.

    Onde estavam aquelas marcas na parede com autógrafos dos bêbados felizes que por ali passavam ? E a gordura de nossas mãos que tínhamos deixado e conservávamos com tanto carinho naquele balcão. Estávamos tristes e frustrados.

    Às vezes ficamos tão felizes com as coisas do jeito que são, que não conseguimos entender que a vida evolui, os barzinhos são reformados e dão lugar a belos restaurantes. Mas não queríamos estar num restaurante.

    Queríamos nosso barzinho de volta, mas isso era absolutamente impossível. Agora, teríamos que comer de garfo e faca e aprender a pedir o melhor vinho da casa. Teríamos de conversar em voz baixa e os assuntos não poderiam ser diferentes de queda do dólar, do último discurso do ministro da fazenda e do capítulo final das novelas da Globo.

    Nada de piadas, nada de gargalhadas e resumindo, nada de ficarmos felizes. Naquela noite fomos para casa mais cedo. Só tomamos uma garrafa de água mineral e falamos pouco. Na verdade estávamos muito tristes, estávamos nos sentindo como pequenos grandes órfãos.

    Pagamos a conta, que aliás foi apresentada numa pequena pasta de couro acolchoada e fomos embora. A solução agora seria procurar outro barzinho ou então, começarmos a fazer amizade com o seu Zeca, aquele senhor magrinho e de cabelos brancos que vendia churrasquinhos na esquina próxima.

    Sempre tive enorme curiosidade de descobrir de que carne eram feitos aqueles churrasquinhos. É possivel que não fossem de carne de gatos....

 

 

                   ***************




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 06/08/2008
Reeditado em 26/01/2013
Código do texto: T1115780
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.