Um mistério

Os fatos aqui narrados são verdadeiros. Moro na casa onde nasci, e se me dado este grande favor, gostaria de morrer aqui mesmo, exatamente no lugar aonde vim ao mundo.

De um bom tempo até hoje, surgiu um belo sabiá-laranjeira forte, esperto e estranho. Dizem os mais chegados que é coisa de outro mundo, mas não pretendo discutir isto, apenas contar a história.

Este mundo é cheio de mistérios. O belo pássaro, tão logo percebe que tem gente acordada pela manhã, começa a bicar com vigor a janela do meu escritório. Como é casa, tem grades, onde ele pousa sem a menor cerimônia e faz uma espécie de cumprimento matinal. Muitas vezes o estardalhaço é tanto que ele só se acalma quando alguém vai até onde ele está.

Para complementar este mistério, ele costuma cessar as bicadas no vidro, e como é muito bonito, peito largo, alaranjado, daí o seu nome, bico não muito grande mas de respeito, o bicho começa a exibir-se numa troca de posições digna das modelos.

Como é exibido! Mas com todos os seus direitos. Ele é realmente lindo e a cada dia que passa fica mais dócil. Gosta de conversa, ou melhor, de elogios. Falamos que ele é muito bonito e começa a demonstração da vaidade animal. Se alguém tem dúvida da existência deste fenômeno, que verifique. Animais de inteligência mais desenvolvida, quando agraciados com palavras que falem da sua beleza, costumam responder com verdadeiro charme, e é exatamente isto o que faz o sabiá.

Muitos que conhecem a história ou mesmo a ave garantem que é algum sinal do outro mundo. Mas ninguém aqui em casa entende o sinal, uma espécie de código Morse transmitido em linguagem cifrada. Só sei que cifrada ou não cifrada, ninguém entende nada, apenas que é maneira de cumprimento.

E com esta última frase, dou-me conta que tentamos explicar tudo, uma suprema idiotice! Um cumprimento... Não será exatamente isto que ele está fazendo, e gosta de ser retribuído?

O nosso amigo não tem nome, apenas o apelido de Pica-Vidro, e como já o chamamos assim há bom tempo, vai ser batizado com o apelido.

Coisas que não entendemos bem...

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 06/08/2008
Reeditado em 06/08/2008
Código do texto: T1115616
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