A POBREZA OFICIAL

Estarrecido, volto a enfrentar esta folha em branco. Não que isto não me dê prazer, ao contrário. É que certas coisas conseguem me tirar do sério. Certa vez li que “durante a maior parte do ano é dever da imprensa analisar o Universo buscando formas de estragar o nosso dia”, frase da qual cada dia me convenço mais. Pois bem, o que me tirou do sério, desta vez, apenas para citar uma notícia, foi o tal do Instituto de Pesquisas Avançadas (IPEA) cujo diligente Presidente divulgou recentemente a diminuição da pobreza no Brasil. Esta diminuição coincide admiravelmente com o período do governo Lula. A notícia em questão mereceria alvíssaras, não fossem pequenos e discretos reparos que humildemente aqui faço. Esclareço que não sou nenhum estatístico ou especialista na área de economia, mas a vida e alguns cursos que tive a oportunidade de acompanhar (e aproveitar) me habilitaram com um ferramental e alguma lógica de raciocínio que estou disposto a por a prova ante ao caro leitor.

Pois bem, o tal do IPEA divulgou que a parcela da população brasileira, dos assim considerados pobres, diminuiu de 35% para 24,1%. Pungente, não fosse eu dar de cara com o que este mesmo instituto considera pobre. Baseado em dados do IBGE, este instituto (IPEA) considera pobres todos aqueles que possuem renda per capita inferior a meio salário mínimo mensal. Incríveis duzentos e sete reais e cinquenta centavos. No outro lado da corda repousam os ricos, totalizando a imensa quantidade de um por cento dos brasileiros e a pergunta que não quer calar, sobre o que seriam então os miseráveis, os indigentes.

Mas voltemos ao IPEA e a primeira pergunta que me fiz, ao ler a divulgação, foi resultado de simples aritmética. Já que ricos e pobres somam 25% da população, o que será que está reservado aos 75% restantes. Aonde se classificam estes? Quantos estarão abaixo da chamada linha da pobreza? Quantos pertencerão à chamada classe média? Aliás, esta última só tem este nome pois fica no meio. Sim, reservaram-lhe a incômoda classificação de não ser rico nem pobre. Não ter direito às benesses nem às esmolas. Mas é ela, a classe média, que paga as contas, que paga os impostos (pelos quais nada recebe em troca), em suma é ela que paga o pato. Basta para tanto ver a escalada da voracidade do Fisco deste país, notadamente neste governo.

O que mais me deixou indignado, no entanto, foi o fato de que os resultados apresentados pelo IPEA foram baseados em pesquisas levadas a efeito em apenas seis regiões metropolitanas nacionais. O pouco que aprendi sobre estatísticas e sua validade, é que as mesmas devem ser no mínimo representativas. Ora pois, se temos mais de cinco mil municípios neste país, dos quais vinte e sete são capitais e muitos outros são pólos de atração de mão de obra e coisa e tal, como aceitar como real, um levantamento feito apenas em seis regiões, mesmo que metropolitanas. Mais curioso ainda, é que o resultado foi divulgado em plena campanha eleitoral, assumidamente abrangendo o período de 2003 até 2008 e mais, com a manchete de que a pobreza diminuiu no Brasil.

Dá o que pensar...

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 05/08/2008
Código do texto: T1114293
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