“Aha! Peguei!! Comendo meu danoninho, neh papai?”
“Psiuuuuu! Sua mãe vai acordar. Estou só pegando uns emprestados, depois eu os devolvo”.
“Mas a mamãe não gosta quando o senhor levanta de madrugada para pegar as coisas da geladeira.”
“Eu sei, mas ela só vai brigar se alguém falar, neh?!”
“Mas eu vou falar para ela, papai. O senhor mesmo me disse para nunca mentir. E quando ela perguntar amanhã cedo quem pegou, eu vou falar que foi o senhor.”
“É? É assim é? Aí falo que você também bebeu danoninho, e ainda comeu o queijo que estava aqui e não está mais.” Fez uma cara de culpado que estando lá para mesmo para ver.
“Mas eu não fiz nada disso”
“É? Quem garante? Vai ser a minha palavra contra a sua... E ela, concerteza , vai acreditar na minha.”
O menino começou a chorar copiosamente. O papai rapidamente o acolheu em seus braços e lhe ofereceu um pedaço de mortadela.
“Come meu filho!”
O menino comeu em meio aos prantos e soluços. Quando terminou o pai disse.
“Vamos fazer um trato. Você não conta nada, e eu te dou o que quiser da geladeira.”
Nessa hora os olhos do menino brilharam, sob a luz da geladeira aberta.
“Qualquer coisa papai?”
“Sim. Qualquer coisa.”
“Mas quando a mamãe perguntar quem comeu, o quê que eu digo?”
“Não diz nada. Deixa que eu resolvo a parada.”
“Tá bem... Eu quero o salame, o suco del Valle, o pão integral...
“Esse não. Sua mãe mataria a gente.”
“Tá bem! Bisnaguinha então!”
“Tudo bem, tem um monte aqui em cima.”
Enquanto o papai pagava as bisnaguinhas na parte de cima do armário, o filho pegou um yakult e colocou rapidamente nas calças.
“Toma! O que mais você quer?... Anda logo, sua mãe pode acordar. E aí a casa caí, filho!”
“Calma, pai. Ela trabalhou demais hoje. Não vai acordar agora. Ela me levou para escola, depois me pegou. Me levou para a natação e depois para a aula de Inglês, e antes de dormir me ajudou a fazer o dever de casa.”
“Cansou tua mãe mesmo hein?! Tu é foda!”
“Não papai. O senhor é foda, eu sou o fodinha... tenho até uma comunidade dessa no meu orkut.”
“Nossa , como essa internet é subversiva.”
“Papai, que tal um pedaço daquele pudim?”
“Tá, mas só um pedacinho.”
Depois que os dois se lambuzaram de tanto comer, quando o papai quase não tinha força para levantar, o menino:
“Papai, o senhor sempre faz isso?”
“Sempre que posso. Sua mãe é linha dura nessa questão.”
“Por que o senhor nunca me chamou?”
“Você sempre está dormindo... Não vou ficar te acordando para assaltar a geladeira de noite, neh?!”
“Ah!”
De repente a luz acende, deixando quase cegos os dois meliantes, em meio a uma overdose de claridade.
“Não acredito, Marisvaldo José Junior!”
Era a mamãe.
“Eita filho, a casa caiu, corre!”
O menino passou feito uma bala pela mamãe, que quase caiu tentando segurar o menino.
“Que coisa feia. Olha o seu tamanho... É por isso que essa barriga só cresce, cresce e cresce... Prefere a geladeira à nossa cama... Prefere comer essas besteiras a...’
“Opaaaa, o menino pode estar por perto.”
“Se não bastasse tudo isso, ainda leva o menino para o mau caminho.”
“Calma, deixa eu te explicar... Estava eu sem sono, quando eu ouvi um barulho. Resolvi ver o que era. Quando chego aqui estava o Junior Segundo comendo um pedaço do pudim.”
“Mentira.”
“É verdade. Quando ele me viu tomou um susto, começou a chorar, e aí eu disse que estava tudo bem, que nada ia acontecer.E ele disse que estava se sentido só, e que queria conversar, e aí eu sentei e começamos a conversar sobre tudo, sabe?, e aí começamos a comer, entende?”
“Boa tentativa, mas não funcionou.”
“É mesmo, o moleque não tem culpa de nada mesmo. Desculpa, amor.”
“Amor, neh?!... Falso!”
Ela foi pro quarto do filho, enquanto o papai quase que não conseguiu se levantar de tanto que tinha comido.
“Filho!”
Estava o menino tomando um yakult.
“Mamãe... Não fica com raiva não. Eu confesso. Eu estava sem sono e fui para a cozinha, foi quando o papai chegou e dizendo que a senhora não ia gostar. E aí eu comecei a chorar. E ele conversou comigo e me deu comida, enquanto conversávamos sobre os meus amigos, não briga com ele não.”
O filho fez uma cara de cachorro pidão, que nem a desconfiança da mamãe suportou.
“Tá, filho, vai dormir agora.” Beijou o filho ao cobri-lo com o edredom.
Quando a mamãe chegou no quarto , o papai já estava deitado.
“Combinou a desculpas com ele foi?”
“Uai. O quê que ele disse?”
“A mesma coisa que você disse.”
“Então deve ser verdade neh?!” Meio sem entender nada falou o papai. “Agora vem brincar comigo, vem.”
“Nem pense nisso.”
De manhã.
“Orgulho do papai, hein?!”
“Que nada papai, fica acordado às 2 da madrugada, que eu passo no seu quarto e a gente vem aqui de novo.”
“Onde você aprendeu essas coisas?”
“Na internet, sei lá, no orkut.”
“Essa internet é mesmo subversiva.” Falou o papai em meio às gargalhadas.
"Legal, vei. Vou até entrar na comunidade "Assalto à geladeira".