Créu no redondo!
“Loucura, insensatez, estado inevitável,
Embalagem de iogurte inviolável.
Fome, miséria e incompreensão,
O Brasil é tetracampeão.”
Várias vezes questionei-me em torno da letra desta música, desde quando ela foi lançada e eu tinha apenas 11 anos. Realmente, é inevitável ficar louco e insensato diante de uma embalagem de iogurte mais difícil de abrir que um cofre público... Não era previsão, não era gracejo, não era piada. Às vezes “os bons morrem jovens” por falarem demais.
Em um país absurdamente crente no esporte, comemora-se tetra, penta, hexa e o diabo-a-quatro campeonato, sem lembrar que o Brasil é campeão em vários outros atributos...Negativos. Em cada esquina se vê uma pessoa que por desventura está desempregada. Ao invés de ficar ouvindo dos vizinhos que é um vagabundo, que estará madrugada adentro acompanhando os jogos de Pequin pois não tem o que fazer no outro dia; poderia doar algumas horas da sua semana ensinando algum esporte do qual entenda pelo menos um pouco a crianças e jovens em risco social. Assim estará provando que realmente torce por uma nação campeã.
Enquanto cada um de nós entoa músicas engraçadas, achando que palavrões são apenas inofensivas criações para que a banda ganhe cartaz, esquecemos dos propósitos de “Vossa Excelência”. Além de um recado a políticos corruptos, tinha oculta a frase: “já que vocês só ouvem diálogos de baixo nível...”
Está estampado na TV, no rádio, nos jornais, nas revistas. E mesmo assim, compositores e redatores parecem estar falando às paredes. Todas as manifestações artísticas têm que partir para a baixaria, do contrário, ninguém as escuta. Um dos maiores programas humorísticos da atualidade, recentemente esteve fazendo uma matéria na Vila Mimosa, um dos maiores redutos de prostituição nacional. Usaram disso para questionar porque “meninas jovens e bonitas preferiam fazer programas, sem dentes na boca, a terminar o segundo grau”, como disse a própria personagem assumida pelo repórter. Dos meus amigos, nenhum lembra da frase dita por ele ao final do quadro.
Estamos cada vez mais “atoladinhos” em nossa própria ignorância; “cada um no seu quadrado”, ou “no seu redondo”, enfim, sofrendo os “créus” de cada dia.
Quando comecei a freqüentar festas, uma música dos anos 80 ainda era apreciada nas pistas de dança. Em resposta à pergunta “Que país é este?” a frase era uníssona: “É a p... do Brasil!” Estes adolescentes cresceram e hão de “fazer comédia no cinema com as suas leis', previsão do "Trovador Solitário" a respeito da reação dos jovens questionando a Constituição Federal.
Eu sei que país é este. É o país onde é mais fácil comprar uma garrafa de cerveja (R$ 1,09) do que um litro de leite (R$ 1,45).
Fiquemos tranqüilos... “a solução é alugar o Brasil.” E nós? Ah, “Nós não vamo pagá nada, lá,lá,lá,lá...”