Qual o nome dela?
Qual o nome dela?
Oh, sim, por favor, entre. A casa é sua. Café? Chá? Um pedaço de bolo talvez? Sim, faz tempo que não nos vemos, embora, a fita métrica que percorre essa distância tem uma escala muito traiçoeira, assim, não posso lhe dizer quanto. Suponho, o suficiente para que agora estejas aqui, sentada em minha sala. Mas claro, nós dois já sabemos que o seu olhar de soslaio é o retrato da sua presença. Mas, vamos lá, o que me trazes hoje? De certo, eu reconheço a rua, e o portão de madeira que não fechava direito. Também ouço vozes. O sol da tarde entrando pela janela. Eu gostava de ficar ali. Um ambiente bastante agradável, sobretudo de manhã e `a noitinha. Havia um recorte de céu, a rua com os eucaliptos, as crianças crescendo numa velocidade espantosa, havia os domingos…
Sinceramente, o silêncio entre nós quase sempre está repleto de vestígios. Começo a desconfiar que a sua visita se deve `a crença de seres necessária, para, digamos, colocar cor em imagens que se esvaem dia após dia.
- É engraçado como você se comporta – observei – nunca mostra o quadro todo…
- O todo não me pertençe – disse ela, sem sorrir.
Trocamos um longo olhar e ela entendeu que estava na hora de partir. Ao acompanhá-la até a porta, percebi que havia um visitante
recém chegado, preparando-se para apertar a campainha.
Mais ou menos da minha altura, me deu um aperto de mão vigoroso, e como se ela não estivesse presente, indagou:
- Qual o nome dela?
- Tristeza – respondi – já está de saída.
Ele passou por nós numa postura que não presume dignidade, mas tampouco a falta de. Foi a vez dela indagar:
- Qual o nome dele?
- Futuro – respondi, fechando a porta.
Estava uma manhã linda.
– Quer um café? Por aqui, por favor, a sala fica desse lado. Vamos fazer planos.