Olhares
A garota sentada no banco na parada de ônibus, escutando música em um belo dia de sexta, de repente senta ao seu lado uma mulher morena clara de olhar saltitante e diz: - Menina que coceira nas pernas deve ser essas muriçocas que ficam comendo a gente de noite! E logo abre a bolsa e num gesto fugaz tira de lá um estojo de maquiagem num ato inquietante inicia sua obra de arte, pinta rosto e solta os cabelos.
A garota surpreendida com a situação dá um sorrisinho forçadamente engraçado, no fundo toda aquela cena era uma palhaçada! Uma mulher engraçada no ponto de ônibus, atrasada e feliz, pelo fato de ser quem era parecia que havia vindo de um filme ou então de novela das sete, realmente era uma personagem da vida real.
Cinco minutos depois, lá se vinha a condução, a mulher se maquiando, distraída por sinal, leva um susto, acaba pintando somente um olho, fecha a bolsinha e entra no expresso.
A mulher sentada ao seu lado é como uma desconhecida para ela, como todas as pessoas que estão no interior do ônibus, ninguém ali ela conhece, engraçado é que todas as vezes que ela sai de casa nunca encontrou ninguém conhecido, nem aquela chata vizinha curiosa que entra em sua casa sem pedir permissão, nem a dona da mercearia que vive indo ao centro fazer compras, nem...
O olhar dela diante dos outros é de curiosidade e ânsia por querer conhecer alguém através do olhar, ela visita cada passageiro, sempre com um sorriso de alegria por sentir-se viva, poder olhar cada ser e ver um olhar diferente em cada pessoa da condução.
Olhou a esquerda e viu uma senhora branca, magra de olhar expansivo, dinâmico, olhar que a atraiu em primeira ordem, olhar questionador, a menina sentiu um friozinho na barriga e deu um sorriso pra dentro de si , como se quisesse engolir algo, outro olhar bastante curioso era da criança, acreditava ela que ele tinha uns quatro anos e meio, criança de olhar inocente, faminto por afeto, um olhar simples e sincero.O outro olhar era de um executivo, homem sério em pessoa , pensativo em seus negócios ele não ria, preocupado com as finanças só chegava em casa tarde da noite e não falava com ninguém,não abraçava, esse olhar não foi o dos melhores, mas pensou ela que nunca queria ser como o último olhar, ela queria ser alegre, contagiar as pessoas com um sorriso de paz e esperança, e que quando crescesse seria uma mulher, uma mulher de bem.
Todos os personagens do ônibus são pessoas comuns que tem vidas comuns, todos vão ninguém fica alguns vão ao trabalho, outros a escola, ou em busca de emprego, ou vão porque vão e não voltam mais, e ela não conhecia ninguém, mas conhecia a vida nos olhos das pessoas.