FAMOSOS GLUTÕES

FAMOSOS GLUTÕES

Eu que tenho limitações digestivas, coisas de hereditariedade, não sei porque cargas d’água, hoje me veio na cachimónia lembranças de histórias de grandes comilões de que reza a História antiga.

Na minha infância talvez lá pelos meus doze anos de idade, ou pouco mais, um pouco menos eu me deliciava em ler as histórias de enormes livros e, de capas duras, três ou quatro volumes, da História Universal, coleção herdada de um tio-bisavô padre, homem douto e piedoso, nos quais se contavam histórias fantásticas de famosos comilões. Para surpresa minha e por essas coisas do acaso deparei-me noutro dia, de autoria do poeta Luis da Gama, com extenso e hilariante poema, intitulado de Os Glutões. O mesmo descreve histórias formidáveis, acredito que a fonte tenha sido a mesma, em que se inspirou por tão parecidas, senão iguais, pois me seria difícil com tão poucos anos de idade, ter guardado maiores detalhes dessas histórias.

Refere Luis Gama que um tal “grão” Macedo, “autor de nota”, que Clódio - o fero Aníbal, que só numa ceia “chupitou” seis dezenas de tordos, quarenta ostras, e vinte arráteis da fruta da videira e ainda dez melões. Um tal Melon Grotoniense, por basófia, devorou um touro, de quatro anos. Teógenes famoso atleta, por aposta comeu três bois cabanos. E, assim, vai a extensa lista dos grandes glutões. Fágon, transportou para a pança três leitões, dois carneiros, um ganso, um javali, cem pães de centeio e quatro melões. Cambises rei da Lídia, em certa noite, atracou-se à consorte com tal gana, que a meteu inteirinha no bandulho, isso já de depois de outras comilanças, com certeza.

Pois foi esta última história ou pelo menos assemelhada a que me ficou nos escaninhos da memória, e que me fez escrever esta croniqueta.

Mas já bem mais perto do nosso tempo, e essa sim é talvez a estória mais famosa, não que supere as já aqui contadas em qualidade ou quantidade, mas pelo sucesso do livro, o herói do primeiro romance de François Rabelais, publicado em 1532, Pantagruel. Pantagruel Rei dos Dipsodes, filho do Grande Gigante Gargântua e de sua mulher Babedec, que morre durante o parto. Este mesmo autor faz seu segundo romance intitulado Gargântua, proibido, entretanto, pela Sorbone, sendo incluído entre os livros proibidos e obscenos. Pantagruel um grande boa vida, alegre e glutão, destaca-se desde a infância por sua força descomunal – superada apenas por seu apetite.

Para contrapor a certos desvarios ou desvios à intemperança de certos humanos, vem a propósito este provérbio chinês: o comilão cava seu túmulo. Ou este, português: o peixe morre pela boca.

Como não sou de dar conselhos e tão pouco costumo escrever aquilo ao que costumam chamar de auto-ajuda, especialmente para a classe dos adultos, por mui sabidos que são... Contudo, penso que seria saudável para os cognominados insaciáveis, refletirem que pantagruélicas comilanças não fazem bem a ninguém, nem à saúde, nem à carteira, a não ser por deixar esta mais leve.

Eduardo de Almeida Farias

edumendo@gmail.com

8-6-2008

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 02/08/2008
Código do texto: T1109303