A Lei Seca, O Bem e o Mal e os publicitários, hein?

 

            A lei seca veio a bom termo limpar o trânsito muito louco de motoristas muito neuróticos colocando os pingos nos is e deixando de lado a ferro-bafômetro e fogo a preferência nacional por loiras que foram congeladas mudando hábitos e sintonizando a classe-média-operária-alcoolizada-não-tão-anônima em banho-maria porque ninguém é de ferro e ao cronista não faz falta porque não bebe nunca.

 

            Contra ela já vejo as quedas dos baluartes da tradição do consumo alcoólico, dentre eles os publicitários dos quais um só conheço, mas me basta porque é um porre de cara que se coloca o tempo todo no topo do pódio admirando a própria desgraça e só não vendeu ainda a mãe ao diabo porque a oferta não foi boa.

 

            Não que todo publicitário seja um escroque, não escrevi isso, era apenas um, creio, em uma multidão de honestos assim como temos um ou outro corrupto no meio de milhares de políticos honestos o mesmo se dando na classe dos advogados e, por que não, em todo o cenário nacional.

 

            Não mudem minhas palavras porque até a agricultura perde se a cerveja vier a vender menos por causa da Nova Lei e tem muita gente torcendo para que não pegue (coisas do Brasil) e volte a vender a lucrar e a faturar às custas da cachaça dos outros.

 

            O cronista é abstêmio de carteirinha e, sem apologia, desde criancinha, não adotando, a priori, para isso, qualquer conotação político-religiosa, vindo a adoção de ter sido sempre seco fruto do vexame que desde outrora na idade virginal testemunhar micos do tamanho de gorilas colossais promovidos por parentes em descontrole alimentado por inocentes goles que de pouco a pouco afogam toda a humanidade que ali um dia existira.

 

            Tomei, então, a sábia decisão de quem sabe pagar alguns micos durante a vida, mas aquele da garrafa não.

 

            Sei que muita gente torce o nariz para as leis e quis a vida que o cronista virasse o defensor, zelador e cumpridor de algumas delas, disciplinando-me e fazendo disciplinar, o que nem sempre é fácil visto ser difícil impor regras a quem não gosta de regra nenhuma.

 

            Sou a favor da liberdade de opinião-crença-culto-raça-sexo-origem e qualquer outra que inventarem e que o direito nosso termine sempre onde o do próximo se inicia – boa regra para se viver em paz.

 

            Já falam em grande redução do número de mortos – e que São Pedro agradeça o menor volume de trabalho – aliviando a carga dos Hospitais de Urgência barateando o custo de planos de saúde tão donos do mercado da saúde mercadoria de necessidade primeira.

 

           Pesando prós e contras a Lei, se tiver fiscalização, veio a ficar deixando muitas mães menos chorosas e a população, quem sabe, ao dirigir pelas ruas, avenidas, becos e gruas mais ou menos segura.

 

            Muita gente talvez beba menos, muitos talvez criem juízo, muitos talvez não estejam nem aí, mas que dor é aquela de ter um membro amputado ou de viver em cadeira de rodas ou de chorar em uma coroa de flores por alguém que partiu antes da hora e não deveria ter ido por conta de doses excessivas de falta de moderação.

 

            Em show recente do Rei Roberto Carlos na nossa cidadela verde-flor não houve venda de bebidas e o povo se divertiu a valer voltando para casa sóbrios e felizes encantados pela chuva de boas palavras emitidas pela voz do ídolo.

 

            Uma sociedade pode ser sóbria, feliz e madura sem consumir doses excessivas de morte aos poucos, pena que por força de uma lei externa e não ainda pela busca do equilíbrio interior que cada um deve pautar, mas assim são as coisas e o bem às vezes vem tortuosamente imposto de forma até antipática sendo que não se suporta mais a convivência com o mal, definindo-se este como aquilo que nos atrapalha, que dificulta a felicidade comum e carrega vidas inocentes.

 

            Tem gente que vai gostar enquanto outros vão vibrar de alegria, assim como quem aprecia ou não aprecia doses em qualquer teor...