Poesia ou prosa
Poesia ou prosa
Não gosto de fazer poesia, sinto-me aprisionada entre rimas e expressões que combinam distribuídas em versos e estrofes miscigenadas de quintetos, quartetos, tercetos ou duetos. Não posso me esparramar em longas e desvairadas orações, preciso me controlar. Inventar frases mais curtas, breves enxutas, enfim preciso falar com o coração, mas com a razão ao lado mirando uma análise combinatória, opas agora é matemática, toda família ajuda a procurar palavras que se ajustam: diz um termo para rimar com confuso, alguém da cozinha grita: difuso e continua a poesia... Não me venham com este papo lá do século XIX, período da literatura romântica, em que os poetas viviam entediados poetando, que tudo vem da alma e coração!!! “Sou mais adepta da seguinte teoria:” o gênio é1% de inspiração e 99% de transpiração”, de Thomas Edison, um grande inventor.
A poesia é um amante muito exigente, me desgasta na procura palavra exata, às vezes, somente, consigo rimar janela com panela, então me esparramo numa vidraça e fico olhando a paisagem. Existem outros problemas, não consigo ser calamitosa durante muito tempo, adoro me divertir escrevendo. Então, algumas vezes começo uma poesia bem intencionada jogando umas expressões lindas, porém, me perco e vou para o humor, ai parece que estrago o tom tenso e intenso do poetar. Baixa uma tremenda frustração... Há pouco tempo assisti a uma palestra sobre o ato de escrever poesia, em que foi enfatizado que a poesia possui três características básicas: magia verbal(som, cor das palavras), ritmo e sentido figurado. Sai daquela palestra acreditando que,realmente, não sei poetar, pois o poeta nasce e orador se faz, segundo o poeta Armindo Trevisan.
A busca das palavras é inerente ao escritor, no entanto, essa procura no poeta fica maior, mais dolorida, sofrida, pois elas são muitas nos dicionários e eu sou somente uma.. Os termos não podem andar soltos, livres, eles precisam transmitir imagens, sons, cores e rimar... Rimar para criar a gostosura típica da boa poesia. Aparecem também as figuras de linguagem, as metáforas, anáforas, aliteração, assonância e sinestesia, às vezes até conseguimos criar algum sentido de conotação nos textos poéticos, mas, dói muito esta criação.
Então ser poeta não é coisa simples, torna-se bastante trabalhoso pensar em versos brancos, regulares ou irregulares, rimas alternadas ou emparelhadas, estrofes e sonetos. Por fim, versos são não feitos com idéias, porém sim com palavras. Esta estrofe cria e desenha uma imagem, pertence ao grande Carlos Drummond de Andrade: “Nem tu sabes, amor que te aproximas a passo de veludo. És tão secreto, reticente e ardiloso, que assemelhas a uma casa fugindo do arquiteto”. Quisera eu, um dia transmitir tanta beleza numa estrofe de poesia.
Isa Piedras
01/08/2008