Eu te amo
Quantas vezes você disse “Agora acho que encontrei aquela pessoa especial. Estou amando de verdade...”?
É estranho, mas existem apenas dois tempos para o amor: o passado e o presente. Jamais ninguém terá convicção de que amará um dia, pois o amor requer o objeto do desejo, não o desejo.
Dizem que a gente ama através do cérebro. São conduções nervosas mediadas pela liberação de enzimas e hormônios, os neurotransmissores. O momento que desencadeia esses fenômenos não é determinado ou controlado pelo ser humano – acontece e pronto.
O coração, que eternamente está vinculado ao amor, talvez tenha na acupuntura a sua razão de ser, uma vez que é um meridiano (canal de energia) que regula a sensação de prazer e felicidade. Em medicina tradicional este órgão é um dos principais responsáveis pela manutenção da vida, além de responder diretamente a toda descarga de adrenalina que é jogada no sangue após uma forte emoção. Entretanto, a emoção começou no cérebro. O coração pode ser ressuscitado, o coração pode ser trocado, mas o cérebro até hoje não. Nem cérebro nem coração possuem formas bonitas, mas conseguiram dar ao amor o símbolo mundial de um coração estilizado. Que assim seja: é o coração e pronto.
Amar é sempre pra sempre. Não se ama achando que se vai deixar de amar um dia. Quem assim pensa, não ama. Amor é plena certeza. Do contrário, não é amor; é teorizar e racionalizar. Amor não é lógico, não importando quem se ama - ama-se a pronto.
Confunde-se amor com tanta coisa, e ele é tão simples, absurdamente comum. Porém, é necessário que exista a cara metade, o que nem sempre encontramos, como também podemos quebrar a cara, ou melhor, partir o coração.
“Estatisticamente a média de duração de um amor é de no máximo dois anos. Raramente alguém ama pela vida toda”, assim dizem os estudiosos. Eu gostaria de saber que tipo de aparelho dosa o amor. Deve ser como um barômetro (quieto, mostrando dia a dia, em movimentos lentos, cada passo deste sentimento, o amarômetro). Até o dia em que a gente se descobre desamando. De acordo com os cientistas do amor, portanto, este tem fim, apesar de ninguém achar isso enquanto envolvido por ele.
Os neurocientistas têm uma explicação para pessoas que afirmam estar amando por muitos e muitos anos: “É costume...”. Ora, amor é costume! Acostuma-se a amar. É como uma criança, que quando nasce não sabe interpretar sons, luzes, atos e começa a construir idéias. Com o hábito e exercício diários, ondas cerebrais são desenvolvidas e ela passa a desenvolver em uma velocidade absurda suas emoções e capacidade intelectual. Assim ela se desenvolverá até a plena consciência do eu. Acostuma-se a pensar, então, acostuma-se a amar.
Amor é vício. Tudo que o cérebro necessita para exercer uma função e repentinamente é desprovido de tal, causa uma pane. É preciso amar e amar cada vez mais para que ele trabalhe perfeitamente. Sendo assim, somos dependentes e escravos do amor.
O amor mais fiel, que prova que este pode perdurar para sempre, é aquele provindo dos pais a seus filhos. Se bem que nem todos os pais amam... Mas, ao se dar o alerta “Estou amando”, este sentimento dificilmente vai embora. Então, por que não acontecer também com outras pessoas, em outras situações? Amor é amor e pronto...
Quando se encontra o amor, não necessariamente vive-se feliz. Felicidade e amor são coisas totalmente diferentes. Felicidade é um conceito. Amor prescinde de explicações. Ele existe para nos fazer melhor, mas não se alimenta de felicidade ou tristeza. Ele nasceu amor e pronto...
Leila Marinho Lage
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