Armador solitário
Outro dia recebi um e-mail de uma amiga, com o seguinte título: “Dez coisas que levei anos para aprender.” Entre as dez coisas citadas, uma delas ilustra bem as infindáveis reuniões de cúpula dos países mais ricos do mundo e a hipócrita pretensão de solucionarem os problemas ambientais que assolam o planeta neste século:
“Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um armador solitário construiu a Arca de Noé. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.”
As imagens veiculadas pela mídia, mostrando os poderosos presidentes plantando inocentes mudas de árvores, enquanto recusavam a proposta de diminuir a emissão de gases poluentes na atmosfera, foram quase bizarras.
O presidente dos Estados Unidos da América, o mais resistente ao protocolo de Kioto, fazia “cara de paisagem”, como se as catástrofes ambientais vivenciadas por seu país fossem apenas mísseis para exterminar inimigos imaginários.
O grupo de presidentes que representou o ato simbólico de preservação ambiental, provavelmente motivado pelo mesmo interesse dos profissionais que construíram o Titanic, certamente naufragaria no Planeta à deriva. Mas como são bons em números, somaram os cinqüenta anos sugeridos para a diminuição da emissão de gases, às suas idade, e descobriram que não serão atingidos. Assim, as gerações futuras que se danem.
A consciência ambiental do armador solitário que construiu a Arca de Noé foi de longe mais ética e menos irresponsável, pois se preocupou com o futuro de gerações de seres vivos, sem reunião de cúpula.
O Brasil recolhido à sua emergência tem se dedicado ao tema ambiental sem grandes pretensões, desde os tempos do inesquecível Lutzemberger – o armador solitário e visionário, cuja sabedoria legou-nos a coragem para tentar algo novo, como a visão antecipada dos problemas ambientais que vivenciamos hoje.