NO ONIBUS

Tendo embarcado na Av João Cesar de Oliveira, Eu ia de Contagem para Belo horizonte num ônibus do parque São João/Centro BH quando vendo que os lugares na parte de trás estavam ocupados resolvi assentar um pouquinho até chegar um idoso que teria o lugar d canto por mim cedido imediatamente.

Já me acostumava com a idéia de ficar por ali sentado sem que embarcasse alguém com aquele benefício quando perto da Cuco (Companhia Urbanizadora de Contagem, sobe uma senhora idosa que me fez levantar. Ela insiste para que não me incomodasse mas teimosamente lhe cedi o lugar que na verdade nem devia ter ocupado. Três pontos depois com a saída do Senhor que estava no banco do canto, voltei a sentar desta vez ao lado dela.

Com tempo durante o percurso, passamos a conversar e sem me lembrar do começo do assunto escutei dela as mazelas de um casamento que fracassou:

- Eu estava há 14 anos casada (iniciou) com um mecânico e tudo ia bem até que ele começou a ter um caso. Levei tempo para descobrir e foi a mudança de comportamento dele com grosserias que não eram comuns que me fizeram aprofundar nas desconfianças até a certeza que ruiu com tudo de vez.

- Numa mudança brusca e irreversível, passamos à separação de corpos com a farsa de que não deixariamos nossos filhos sofrer por isso. Mas o comportamento ríspido dele por não ter mais o tratamento de antes comigo deixou um mal estar em casa que só acabou quando ele resolveu partir de mudança para o "novo lar" o que para mim foi indiferente mas os meninos sentiram na pele um franco abandono de quem chegava todas as tarde e saia todas amanhãs e os alegrava ao final de semana.

Acertado que eu receberia dele uma pensão, tive que amargar a humilhante condição de entrar na maratona das ligações telefônicas, com pagamentos inconstantes, e por isso, não tendo trabalhado até então e vendo meus filhos levando uma vida pior do que antes, fui á luta. Arrumei um emprego comum numa cozinha, dentro de uma empresa e com um curso interno voltei a ter condições de tocar a vida sem depender da sofrida pensão que não recusei recebendo do jeito que ele quis pagar.

A vida voltou a seu curso e eu sabia que era um mulher só, pois para a época não era comum envolvimentos livres sem questionamentos que em meu pensamento protetor respingaria em meus filhos. Lidei bem com isso e minhas finanças tiveram sensível melhora quando predestinada fiz outros cursos e ocupando cargos de liderança conciliei a casa com o trabalho e agradeci a Deus por me tornar uma mulher independente.

**A historia estava interessante e estavamos na Av amazonas. temi que o onibus chegasse ao destino sem saber que bicho daria. O trocador passou recolhendo a passagem e eu disse com jeito de puxar a continuação**

- Daí que ficou tudo bem e você viveu dessa forma com seus filhos?

- Bem que tentei, porque já esbelecida na nova condição, cheguei até a fazer um curso de especialização avançada que me deixou com situação financeira definida. Os meninos de vento em popa no científico (ensino médio) disciplinados mas começaram os problemas dele na visita aos filhos.

- Apenas na condição de pai?

- É, Passou a sentir saudades dos filhos e a entender de forma melancólica que eu não dependia dele e de ninguém para sustentar a casa. Mas tolerei suas visitas mesmo me causando desconforto quando veio o pior: Vitimado por uma trombose ficou totalmente dependente da outra a que ao se ver sem condições de cuidar dele doente usou nossos filhos, de forma emocional fazendo com que ele viesse para minha casa. Idéia que embora devesse concordar com ela pelo motivo de doênça não me agradou por estar com o coração bastante amargo. Mas superei e além disso os meninos me pressionaram ao dizer que eu deveria esquecer o homem que ele não era na minha vida e lembrar do pai que ele era na deles e que deveriam zelar por ele naquele momento adverso.

Uma tosse dela interrompe a narrativa e o "danado" do ônibus voava pela Av amazonas, pra chegar de pressa e não deixar saber do assunto todo, mas ela continuou:

- A melhora dele veio depois da amputação da perna direita dele e ter ficado em casa uns quatro meses, semque ele parasse de pensar na outra que de tanto ligar, certamente pelo salário dele que estava deixando de ir para a casa dela , eu não aguentei e disse que poderia até ajudá-lo caso sentisse necessidades mas que fosse embora, que era demais para mim. De fato ele foi para a casa dela e depois de alguns meses, se recolheu e faleceu, cabendo a mim a a obrigação de sepulta-lo com decência e tudo acabou.

- Assim, com os filhos todos já adultos e trabalhando consegui além do meu salário que era reconhecidamente compensador uma pensão também generosa que seria o que ele ao me deixar gastava do lado da outra e nem eu sabia que era assim tão gorda pelo minguado valor que ele a mim destinava.

- Vou resumir dizendo que eu estava muito bem. A casa paga, sem contas para pagar, os filhos trabalhando sem me dar qualquer despesa, levando a vida deles com independência. Uma maravilha até que me aparece, dois anos depois, um oficial de justiça com um documento que dizia que eu deveria comparecer a uma área jurídica com vistas a dividir a pensão com uma provável filha do morto com a outra. Não contive o rancor qiue me dominou e decidi gastar até o último centavo com advogado para não ceder a esse disparate, fomos ao juíz e passados três anos de pendenga fui parar na frente dele, e. perguntei se eu estava obrigada a ceder parte de uma pensão, depois de viver com alguém até sua morte sem considera-lo separado, e se ele vivia em outra casa não era culpa minha que inclusive cuidei de se sepultamento como se esposa fosse, ainda em nome da família.

Alcancei meu objetivo. pois naquele tempo não havia esse negócio de DNA ou outra forma de confirmação de paternidade sem que as despesas devessem partir do interessado e o juíz não podia confirmar com exatidão a data ou melhor dizendo os anos da criança da outra em função do afastamento do pai da familia constituiída e ante de bater o martelo me perguntou se eu não poderia, sesibilizar, sendo beneficiária de duas pensões, ceder parte de uma a criança para dar um basta em tudo.

Meu coração duro não amoleceu, perguntei ao juíz se ele me faria pagar, no que ele disse que legalmente não tinha provas robustas de que a criança (com 7 anos á época) seria dele, uma subjetividade que ele sabia que eu recorreria e gastaria duas vezes mais para não ceder, e eu tinha munição e disposição para deixar a outra na lona.

-A senhora entende que a situação é delicada e envolve uma criança que necessita dessa pensão? - pergunta o Juíz calmamente, no que eu respondi:

- Meritíssimo. não reconheço essa criança como dependente do meu marido e não saberia dizer se não seria duvidosa a conduta dessa senhora pois já passados dois anos do seu sepultamento, e mais três que estou na condição recorrente, falamos de uma criança de sete anos que ela poderia ter tido com qualquer outro homem arrancado de casa assim como aconteceu ao meu falecido, pelo que te peço para ser júiz em nome de uma familia de bem que somos e da mulher que fui não admitindo em minha vida ninguém depois dele, e afaste essa mulher que ao fim de tudo destruiu meu csamento, tudoque eu quero e esquece-la.

O onibus estava virando na Rua Araguari e ela disse levantando as mãos como em oração:

- O Juiz bateu o martelo e nõ reconheceu o filho como sendo bastardo dele e coube a amante sem qualquer condição financeira a obrigação de recorrer o que não aconteceu até hoje.

- quanto tempo isso faz.

- quase vinte anos.

divagamos sobre mais algumas banalidades até que o õnibus encostou na Av Olegário Maciel esquina com rua Tamoios e descemos. despedimos e fiquei vendo-a caminhar mancando rumo ao Mercado Novo até desaparecer na rua dos Tupis, deixando sua história para trás e eu fui para a rua Carijós onde deveria pegar um outro ônibus para a localidade de Justinópolis na região de Venda Nova

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 30/07/2008
Reeditado em 26/02/2011
Código do texto: T1104023
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