Poder

Alcançar uma meta profissional, assumir determinado cargo ou função sempre traz reconhecimento profissional e eleva a auto-estima. Porém, o maior benefício não esta na valorização profissional ou ganho financeiro, mas sim, no aprendizado pessoal e crescimento interior.Digo isso com convicção, por ter passado por situações parecidas quando ainda muito jovem, e que me trouxeram grandes aprendizados.

Alguns anos depois, a importância atribuída a uma conquista profissional é totalmente diferente. A felicidade pelas novas conquistas ainda é a mesma, o que mudou foram às expectativas que agora levam em conta aspectos que antes eram desconhecidos. Um comportamento provocado pela maturidade e aprendizado, marcado pelas cicatrizes e tropeços de algumas experiências frustradas colhidas no decorrer do caminho.

Todas as conquistas, inclusive aquelas que considerei fracassadas, depois se mostraram grandes e fundamentais experiências, que me levaram a um imensurável aprendizado pessoal, além de novos postos profissionais. Todos estas experiências foram extremamente importantes para o meu desenvolvimento e contribuíram decisivamente para que eu me tornasse um ser humano melhor. No entanto, o que mais me marcou foi a questão do poder que um cargo ou função traz, ou seja, aquele “poder” inerente à atividade, posição hierárquica ou social.

 Lembro que em determinado momento fui atacado por este mal e tive que fazer um gigantesco esforço para sufocá-lo. O período mais vulnerável para este verme se instalar é quando a vaidade e o orgulho estão presentes em excesso, assim como a frustração ou qualquer imprevisto que aparece, cujas causas requerem esforço para superá-las, e ao invés de tentarmos solucioná-las optamos em utilizar este “poder” como solução. Uma das maiores cicatrizes que carrego até hoje e, da qual me orgulho, decorre deste ataque, pois aprendi o valor da humildade.

Tudo isso me veio à mente por ter presenciado um renomado profissional assumir um cargo importante e, recentemente venho acompanhando de perto suas atitudes ou, se preferirem “atividades” profissionais. Logo nos primeiros dias, percebi que estava diante do supremo poder personificado. Essa foi a única expressão que me ocorreu, tamanho eram os absurdos de autoritarismo e vaidade que presenciava. E, por fim, ainda parecia ter prazer ao falar alto e em bom tom, que “poder era para ser exercido”. Não posso discordar dessa afirmação, até por ela ser verdadeira, mas sim, da maneira que ele exercia “seu poder”, algo inaceitável, nos tempos atuais. Lembrando é claro, aos desavisados, que liderança é outra coisa, assim como o “querer é poder”.

Existem inúmeras formas de poder, os mais falados são o poder político, militar, religioso, financeiro e o sempre lembrado poder das elites, entre tantas outras formas e expressões de poder. Entretanto, existem três formas clássicas de poder de uma pessoa sobre a outra, que são: o poder coercitivo, o poder normativo e o poder utilitário;

Particularmente o coercitivo foi o primeiro que aprendi, através do meu primo, um pouco mais velho e muito mais forte que eu. Lembro que ele adorava dizer: “Faça isso ou tu apanha”. Este é o poder da agressão, infelizmente muito utilizado neste mundo dito, civilizado.

Já o poder utilitário, meus pais se encarregaram de ensinar, aliás, começaram antes mesmo do meu primo me ensinar o Coercitivo, mas só fui entendê-lo um pouco mais tarde. Eles me induziam com “boas intenções”, para me incentivar é claro, a seguinte frase: Faça isso que eu te dou isto. Esse é o poder do dinheiro.

E o terceiro, esse foi o mais difícil de perceber. Este é mais sutil, tanto que a minha ficha demorou em cair e, quando caiu, me senti enganado. Porém, superei esta frustração ao perceber que esse poder é tão sutil, que em certas situações até traz benefícios sociais. Um exemplo é quando somos convencidos a fazer um determinado trabalho voluntário, totalmente a contra gosto. Este poder pode ser resumido na frase: Faça isso que te sentirás bem e ainda serás reconhecido. Aliás, este poder me fez lembrar o esforço para alguém conquistar um cartaz na parede com sua foto, como destaque do mês. Agora imagine a diferença de esforço e beneficio, para os dois lados.

Não se trata de negar o valor do trabalho voluntário, do dever cumprido, de alcançar determinada meta, ou da satisfação em proporcionar bem estar ao próximo, e sim, de utilizar-se desse sutil expediente para alcançar um benefício pessoal, profissional, ou financeiro de forma enganosa. Contudo, o poder pode ser exercido de muitas formas e inúmeras finalidades, mas se não observar princípios morais, de respeito, dignidade e igualdade entre os homens não terá nenhum valor. Como é triste ver que alguém alcança determinada posição profissional ou social e se deixa dominar pelo poder, deixa a vaidade pessoal alimentar o desejo de poder e, sobretudo, ainda o exerce indevidamente, considerando-se superior.

Assim, este renomado profissional que aparentava possuir o conhecimento e as virtudes necessárias ao cargo, em pouco tempo deixou-se dominar pelo mal do poder. Este é um caso onde se aplica o velho ditado “o poder sobe a cabeça” e quando se instala sob o crânio, a única forma de removê-lo é expandir a consciência, caso contrário, nos resta apenas remover a pessoa do “cargo de poder”, já que o poder é intrínseco ao cargo.

Espero que este relato sirva para lembrar a importância da humildade como virtude para o progresso interior e para que os ambiciosos e detentores do “poder” reflitam, alertando-os para a necessidade da constante vigilância na prevenção contra este verme. Um verme que costuma atacar muitos agentes públicos. Pense nisso