NÃO, NÃO SOU EU

Não. Decididamente, esta que saiu e bateu a porta e depois entrou com a mesma delicadeza, não sou eu. Não sou eu esta que está caminhando pela sala, num vai-e-vem, senta/levanta, anda, torna a sentar, cruza/descruza as pernas; fuma um cigarro, que eu não fumo, e que faz tossir; entorna goela adentro uma dose generosa de conhaque , que eu não bebo, e que engasga. Agora, pernas fraquejando, cabeça rodando, procura onde se apoiar e cai pesadamente sobre o sofá.

Esta também não sou eu que, de olhos fixos na telinha de um mini-computador espera que surja de dentro dele a “alma pequena”. Também não sou eu e nem foi eu quem atirou longe o celular por ter tocado por engano.

Ainda não sou eu, quem está ai, procurando avidamente, entre os CDs de Maria Bethânia, uma canção que fale sobre“Castigo” para fazer suas as lamúrias da cantora;

Estou começando a ficar com peninha desta que não sou eu... Hei! Você, que não sou eu e não está em mim, conversa comigo que não estou em você? Que tal, faz de conta que eu sou o tédio e você é a dor. De quem será a vida que oscila entre os dois? E não vale dizer que o seu espírito é obtuso e sempre lhe arrasta para a fonte do sofrimento. E também não adiante dizer que acreditou no amor que buscou, pensando fosse o seu último refúgio, quando só encontrou incompreensão e intolerância . Apesar de...Só não vale indagar se o viver vale a pena, embora a “alma” que acreditou ser sua, seja “pequena” Vai, vai, conversa! Já dei o mote.

Não quer conversar? Que pena... Um conselho? Sabe onde encontrar a sua “alma pequena”, sabe? Dentro do seu notebook? Então, que está esperando? Segue o conselho da Sandra de Sá e joga o dito fora no lixo. E, como epitáfio, solenemente proclame: “Que a gente não se encontre noutra agonia.

PS: A que não sou eu está sugerindo como fundo musical para esta tragédia, que não é grega, na voz de Maria Bethânia: “Negue”. Agora, eu que sou eu, mas sofisticada que sou, sugiro “Funeral March” de Chopin.