Meu Pai Morreu - Parte I - O Início
Meu pai morreu
Parte I – O Início
O ano é 1957. Meu pai nasceu. Os pais dele, única coisa em comum: o amavam. Nada mais. Viram algo nele, algo que não sei explicar, que 27 anos depois veriam em mim.
Os psicólogos explicam que tudo na formação da personalidade e do caráter de um ser, não tudo, mas grande parte, a maioria, é entre 0 e 6 anos. O que faria do meu pai um ser normal? O que teria feito? Não sei. E nunca, provavelmente saberei. Filho único, e brigas, e palavrões, e agressões, e falta de amor. Não. Mesmo assim, eles o amavam. Só a ele.
Criaram um ser egocêntrico, e maníaco, e..., não dá para explicar. Muitos poderiam dizer muito sobre ele. Alguns o conheciam bem, outros, achavam que o conheciam. Eu sou a pessoa mais indicada. Eu vivi com ele.
Quando ele pedia algo à sua mãe, minha avó, que ainda não conspirava em ser minha avó, ela o dava. Mas, que calúnia!!! Ela não simplesmente dava. Primeiro dizia que não, depois comprava escondido, e o presenteava outro dia. Talvez isso compôs aquele jeito de sempre dizer não para coisas super importantes, e, depois acabava dando.
Renderam-lhe, igualmente, como uma indispensável e aprazível fortuna, a extraordinária quantia de 2365, sim, 2366 manias.
Coisas dentro de plásticos, remédios dentro de plásticos, biscoitos dentro de plásticos, talheres dentro de plásticos, documentos dentro de plásticos, plásticos dentro de plásticos...
Essa última frase, normalmente soaria como um desabafo ineficaz. Um discurso evasivo sobre as coisas irritantes que só meu pai sabia fazer. Agora soa como um vazio.
Continua...