Sobre a vida e seu valor intrínseco

Ao longo da história, civilizações humanas sucederam-se às custas da vida de outras espécies. A natureza, essencial à sobrevivência dos homens, foi gradativamente dizimada pela ganância, em nome de algum progresso. Vê-se hoje o triunfo do consumo supérfluo, do conforto, do lucro empresarial sobrepondo-se a algo que antecede a todo o resto: a vida, que não se esgota no homem. A vida, que circula no complexo ecossistema terrestre, se esvai a cada ato ou negligência que permitem sua destruição. O que ocorre com a Amazônia insere-se na cadeia de usurpações ilimitadas à natureza pelo fato de que os homens não se conseguem libertar de um paradigma que vê sua existência como soberana, devendo subjugar o resto.

Figura no passado brasileiro uma série de destruições florestais. A Mata Atlântica é o exemplo mais expressivo, reduzida a uma parcela ínfima em relação ao espaço da nação que cobria antes da colonização européia. A conquista portuguesa impôs aos povos nativos, além dos massacres, sua supremacia cultural e econômica. A biodiversidade dava lugar às extensas monoculturas, mais lucrativas à metrópole.

Assim foi-se moldando o Brasil, através do extermínio de suas riquezas naturais e dos povos que viviam em harmonia com esse ambiente. E continuamos, nas condições atuais, a destruir nosso mundo como se não houvesse intensas alterações, enquanto nos encaminhamos cegamente a um colapso.

A Amazônia está nas mãos de uma humanidade que não se quer enxergar dependente dela num sentido que não o da exploração econômica. Suas águas, fauna e flora precisam ser preservadas primordialmente não porque trarão benefícios ao homem, mas porque possuem valor inestimável em si mesmas. A humanidade tem uma dívida histórica com a natureza que não será sanada, mas se podem minimizar os males causados. O necessário, para tanto, é algo que antecede a ação concreta, porque nada pode derivar de um pensamento errôneo: precisa-se de que cada indivíduo reconheça-se parte do ecossistema planetário. Há que se resgatar o respeito à vida, antes de qualquer coisa.

Clarissa de Baumont
Enviado por Clarissa de Baumont em 27/07/2008
Código do texto: T1100269
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.