Não é pra deitar no peito e ouvir o coração bater como se fosse música
(...)"e eu não posso mais traduzir meu coração porque a única que consegue transformá-lo em poesia és tu."(...)
(...)"Ah, o amor, quando é demais ao findar leva a paz, me entreguei, sem pensar"(...)
Tendo sido testemunha da injustiça de um amor que se finou, não posso deixar de registrar.
O amor quando se acaba é uma coisa terrível, fétido como as rosas que, tendo sido perfumadas no momento em que nos são presenteadas, após algum tempo, caso não tenhamos o bom senso de jogar fora, passam a empestear todo o ambiente. A mortalha do amor, segundo Chico Buarque, ninguém quer carregar e a saudade é o revés do parto.
Ai de mim, como isso é verdade. A gente ama e constrói os mais belos castelos, ai o amor acaba e você tem que recolher todas as suas peças, uma por uma, em geral na maior solidão.
Por que tem que ser assim? a gente poderia se entregar menos, não confiar inteiramente, já que em geral o amor se acaba primeiro de um lado, e havendo ficando raízes no outro, causa danos irreparáveis.
O T-REX avisa que eu estou prolixa e elocubrando excessivamente; como sempre, meu tiranossauro tem razão. Sejamos, pois, objetivos:
Não é pra entregar o coração todinho, não é pra mergulhar de cabeça no mar de prazer, não é pra descobrir que um beijo num lugar determinado da nuca provoca um arrepio sensual, não é para permitir que o outro durma com a mão sobre o seu sexo, não é para deixar que a língua passeie lentamente sobre a pele, não é para ouvir a mesma música mil vezes, e todas as vezes sentir uma alegria irresponsável, não é pra deitar no peito e ouvir o coração bater como se fosse música, não é pra mergulhar tão fundo nos lábios do outro até não se saber mais onde está, não é pra dizer sempre, pra sempre, eternamente, não é pra dizer sou seu ou sou sua. Não é, não é, não é!
Agora o T-REX me olha de forma oblíqua e levanta uma sombracelha de um modo absolutamente irônico (suspeito que esse tiranossauro é inglês e fã do David Niven) e pergunta, direto, como é de seu feitio:
- Você acha mesmo que alguém seguirá esse conselho?
Não, T, eu não acho, e nem acho que alguém deva fazê-lo. Segurança é coisa que nenhum amor promove, que nenhuma paixão contém. Se for seguro, já não é amor. Proponho que os mistérios íntimos e pessoais não sejam revelados, por razões diferentes de segurança, seria mais por pudor na verdade; mas o amor é físico, a paixão é telúrica e se a gente não viver, pelo menos uma vez, uma paixão, um amor, tanto carnal quanto passional, não viveu! Passou a vida vegetando entre as coisas seguras e inócuas, não tem lembranças, não tem base emocional, não tem nada.
Pode ser que não sofra uma paixão rasgada, um sonho desfeito, uma dor atroz, mas jamais se saberá a glória e a miséria de uma alma esfacelada por um amor cruel, nunca terá a oportunidade de um dia, depois de anos de separação, cair de novo naqueles braços que o abandonaram e viver, por alguns segundos a sensação maravilhosa, plena e rica de cair em tentação, sentir o gosto do proibido, transgredir.
O T-REX ri e agora diz que eu estou falando em língua de gente.
Pois é, estou e aviso, antes que passe o prazo de validade (dos dezoito aos trinta anos) todo mundo deve viver, pelo menos, um amor, uma paixão, uma completa e plena explosão de sentidos. Até por que, depois dos trinta, a racionalidade e a maturidade, estas chatas de galocha, vêm nos dizer que nosso ritmo tende a diminuir, avisam que os sonhos já são possíveis e as mini saias já não caem bem, assim como as camisas abertas no peito e as sungas, avisam que cabelos compridos ficam bem (no máximo) em Willy Nelson e Steve Taylor. E olhe lá!
Porém, há uma ressalva, quem não passou pela emoção desenfrenada, na plenitude da adolescência, será um adulto e um velho chatíssimo, por isso, sempre é tempo de "cair de boca na vida" e aproveitar enquanto se está vivo. Eu acho, e o T-REX concorda, que mesmo que haja outra vida, cabe aproveitar essa.
PS: para você meu cavalheiro.