Não depende de mim, na verdade, nunca dependeu.

É, até acho cômico ver as situações se repetindo na minha vida, isso não depende de mim, na verdade, nunca dependeu, mas é sempre assim.

Eu não posso esquecer daquele tenebroso quatro de agosto de dois mil e sete e do fúnebre vinte de março de dois mil e oito porque não dependeram de mim, na verdade, nunca poderiam ter dependido. Não há como esquecer, mas o pior – ou melhor – mesmo é que não depende de mim, na verdade, nunca dependeu, entretanto, eu acordava nestas épocas e o dia sempre parecia quebrado.

E aquelas surpresas, sempre tão desagradáveis, nunca paravam de rechear minha cabeça, e não dependia de mim, na verdade, não havia como depender.

E naquela época existia tanta pressão, e eu nunca imaginaria que um cara como eu precisava estar em discussões, que por mais que eu tentasse arduamente melhorar as coisas, aquelas surpresas sempre vinham e não dependia de mim, na verdade, nunca dependeu, mesmo que eu me rendesse.

E aquela escuridão semelhante a que toma o mar numa noite tempestuosa sempre se instalava em minha vida; e eu podia ver o que além do negro? A minha dor, é claro, mas não dependia de mim, na verdade, nunca dependeu.

E eu queria me esconder nos castanhos ou ruivos daqueles cabelos, seria como um santuário, mas eu não podia porque não dependia de mim, na verdade, nunca dependeu.

E eu desfazia tudo em um piscar de olhos, e chorava, e sangrava, e chorava, e sangrava, e chorava, e me desesperava porque não dependia de mim, na verdade, nunca dependeu.

Eu sabia que aquele sentimento que outrora havia preenchido meu coração fazendo com que todos ao redor ficassem tontos com sua intensidade havia se desfeito de uma forma tão covarde que eu me envergonhava só de pensar, ainda sim, tudo continuava cheio daquele sentimento fazendo com os que estavam ao meu derredor se alegrassem e jubilassem, até porque, não dependia de mim, na verdade, nunca dependeu.

E sempre chegava a hora final, aquela em que eu só queria explodir no sentido literal da palavra, explodir meu corpo, me desligar, inclusive porque eu sabia que no outro dia estaria renovado, um pouco cansado, mas totalmente renovado, no entanto, vale ressaltar que não dependia de mim, na verdade, nunca dependeu.

E hoje eu estou aqui, levando minha vida, recuperado, mas não curado, e as coisas vêm me perturbar querendo me jogar de volta no passado, ou melhor, ressuscitar o meu passado... Quer dizer, fazer do meu passado o meu presente, só que eu sei que isso... Isso depende de mim, na verdade, sempre depende porque, de fato, nunca dependeu.