O cheiro de uma tal Gabriela

                              Quando eu vim pra esse mundo
                              Eu não atinava em nada
                              Hoje eu sou Gabriela
                              Gabriela He! Meus camaradas.
                                        
                                                        Dorival Caymmi

     Quando cheguei em Salvador, idos de 1957-58, mesmo sem conhecê-la, uma morena perfumada e charmosa chamada Gabriela logo me encantou...
     Em toda a Bahia só se falava nela. Nas livrarias, então...
     Chegaram a dizer que seu perfume - "um cheiro forte de cravo e canela" - havia se espalhado por todos os recantos da Boa Terra. 
     Na minha Faculdade, a de Direito, muitos colegas e graciosas coleguinhas eram filhos e filhas de Ilhéus, terra de Gabriela.  Mostravam-se orgulhosos ao se declararem conterrâneos da linda e sensual morena. 
     De alguns ouvi histórias que davam seus bisavós como ex-freqüentadores de um famoso cabaré ilheense apelidado de Bataclã.
     Vim saber depois que tudo não passava de gozação dos assanhados coleguinhas.
     Achava, entretanto, que os contadores daquelas lorotas não escondiam a enorme vontade de serem parentes de um daqueles apatacados coronéis que comandaram a orgia doirada do glorioso Bataclã. .

     ***   ***   ***

     Agora, falando sério. Todo clima, gostoso e romântico, ao qual me referi foi criado com a publicação, em 1958, do romance Gabriela cravo e canela. 
     Gabriela - que dizem ter existido, apenas, na imaginação de Jorge Amado - passou a despertar no coração dos baianos alguma coisa parecida com paixão. 
     Para muitos ela havia existido e com a sensualidade e a beleza pintadas pela caneta de Jorge Amado. 
    Crença que parecia aumentar com o desdobramento do amor que a colocou na cama do turco Nacib, dono do bar Vesúvio.
      Já disseram que Gabriela é o mais belo romance de Jorge Amado. Não posso confirmar porque não li toda a obra do saudoso autor de Capitães de Areia e de
Dona Flôr e seus dois maridos.
     Não estou entre os que elegeram os livros do Jorge Amado como livros de cabeceira. 
     Prefiro ler crônicas. E até onde sei, o mestre de Os Velhos Marinheiros  não fez livros só de crônicas. Como o fizeram Rachel de Queiroz, Machados de Assis e José de Alencar, entre outros.
     Sabe-se, entretanto,  que Jorge saiu em defesa da crônica quando muitos escritores coroados chamaram-na de literatura pigméia.
     Mas como dizia, cheguei em Salvador e logo me encantei por Gabriela, sua história, seus contornos, etc. e tal.
     Oriundo do Ceará, até então, a grande figura feminina que os livros me haviam trazido atendia pelo nome de Iracema.
     Lera o romance Iracema  ainda no Seminário; por debaixo do pano; para não dizer da batina.
     No internato, anos 40-50,  romances como Iracema e Inocência de Taunay constavam do Índex dos padres reitores. Os futuros padrecos estavam impedidos até de folheá-los.
     Era compreensível. Estava tudo de acordo com as exigências da santa Eclésia daqueles tempos.
     O fato é que a leitura de Gabriela, logo nos meus primeiros dias baianos, ajudou-me a conhecer um pouco mais a maravilhosa história da terra do Senhor do Bonfim, que acabara de me acolher.
     Mas não foi para dizer que Gabriela cravo de canela é ou não o melhor romance de Jorge Amado que aqui compareço.
      Isso é tarefa dos críticos literários que, infelizmente, nunca consegui ser.
     Minha crônica é de agradecimento. 
     Agradecer a quem e por quê? A Jorge Amado, claro, por Gabriela,  no ano do cinqüentenário do seu doce romance.
     Encham-se, pois, as páginas dos jornais e revistas da Bahia de estudos, ensaios, criticas, apreciações, crônicas e longas analises em torno desse belo livro do amado Jorge.
     
     

    
  

    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 23/07/2008
Reeditado em 11/01/2009
Código do texto: T1094276