Memórias no leito de morte
Crônica de Daniella Dell Ossi
12/04/07 – 21:28
Memórias no leito de morte
Acordei, abri os meus olhos e enxerguei. A luz do sol, que invadia todo
interior do meu quarto, temporário. E me perguntei: Porque, Deus é tão bom
comigo? Apesar, de eu ter muitos defeitos de caráter por corrigir. Apesar,
de ter feito entristecer, tantos corações que sinceramente me amaram.
Apesar, de não ter sido, um bom exemplo para alguns. Apesar, de não ter
pedido perdão, a quem deveria de fato. Apesar, de não ter emprestado quando
me sobrava. Apesar, de não ter dado ouvidos, a quem precisava. Apesar, de
não ter sido, um bom amigo, de quem sempre me estendeu a mão. Apesar, de não
ter sido, fiel a mulher de minha juventude e não ter a tratado com o
respeito que merecia.
Apesar, de a ética, não ter sido meu estudo diário. Apesar, de ter
contrariado, algumas leis de convivência. Apesar, de ter sido tão
egocêntrico, orgulhoso e mesquinho em várias situações. Apesar, de valorizar
as relações impessoais, que só me rendessem bens materiais, privilégios e
prestígios pessoais e profissionais. Apesar de ter sido tão preconceituoso
com algumas pessoas e tão falso moralista com outras. Apesar, de tantos
pesares, que pesam agora na minha consciência.
Acho, que Ele me ama com todas as minhas imperfeições. Por mim, relatada.
E que Ele me demonstra, que não sou um escarro, mas, ainda dá tempo de me
transformar. Será? Quem sabe em uma árvore frutífera. Cheia de bons frutos,
que não consegui ser. No decorrer, dessa passagem, que foi a minha vida.
Tendo o amor, a honestidade, a lealdade, a amizade, a verdade e a fidelidade
como presentes. Virtudes, que não consegui, aderir a minha personalidade.
Enquanto, vivi aqui. Deus, eu te agradeço. Por estar, me dando tempo para
refletir, os meus infelizes pecados. Bem, no meu último e divino fôlego de
vida. Neste, leito de hospital que me encontro. Fiz, uma reflexão do que fui
e do que realmente deveria ter sido. Alguns, segundos antes, do Senhor
desligar o meu ar, o coração definitivamente parar e levar a minha alma.
Para onde será, que ela irá morar? Sei que isso, o Senhor não irá me
responder. Mas, eu sei que faço parte do outro lado de lá. Aonde, as minhas
obras negativas e
improdutivas, são aplaudidas de pé. Pelo o seu Inimigo, que um dia
invejou, ser igual ao Senhor. Apesar, de ter sido criado por Ti. Eu optei,
pelo caminho, que minha alma vai residir. Até vir, o julgamento final, que
todos irão assistir e participar. Sei, que não sou digno de pena. Que minha
sentença já foi assinada. Que as trevas, tomarão conta da minha vida e seus
residentes estão vindo me buscar e me recepcionar. Deus, queria muito
chorar, mas, sei que as minhas lágrimas. Não seriam suficientes para te
convencer. De que deveria, ter sido um bom filho. Uma outra criatura. Um ser
humano, mas, parecido com a sua imagem e semelhança. Em atitudes, em
sentimentos, em misericórdia e em amor e justiça. Não foi assim que me
comportei. Sei que errei, mas, é tarde para minhas lamúrias. Vou cumprir, a
minha pena. Agora, eu me desejo, solitariamente, sorte. Lá está vindo a
morte e ela está rindo. Vem se aproximando e me diz: Seja bem vindo. Eu vou
indo, sem resistir e digo a ela:
Estou aqui, podemos ir.