Troco minha barra de cereais pelo seu pirulito

Eu vivia no mundo dos sonhos

Acordava pela manhã e colocava um vestido lindo, rosinha, de princesa.

Olhava meu desenho favorito e brincava com meus amigos.

Não me importava se o vestido fosse sujar afinal para mim ele era feito pra isso. Para voltar pra casa sujo de lama, patas de cachorro e grama grudada por todas as partes.

Olhar novela e tomar chimarrão era como vitórias porque eram coisas de adultos.

Tudo era fácil.

Nunca entendi porque meus pais e professores complicavam tanto, por tão pouco.

Preocupação. O que era isto? Sei lá. Eu não tinha.

Contas a pagar eram como papéis que adultos pagavam como no super mercado para poder comprar luz, água e casa.

Meus melhores amigos eram todos de quem eu gostava.

As velhas chatas e rabugentas da rua eram bruxas e as únicas de quem havia medo.

O amor da minha vida era o galã da novela e o garoto um ano mais velho que eu.

Hoje vivo em que mundo? No meu.

Hoje acordo pela manhã e visto uma roupa adequada para o trabalho.

Não da tempo de assistir TV porque tenho que tomar café "correndo". Mas ainda tenho meu desenho favorito.

Dou bom dia a "desconhecidos" e fico louca se minha roupa sujar até o final do dia. Afinal não é nada apresentável andar por ai suja.

Tomar chimarrão e assistir novelas são coisas banais e sem graça. Prefiro sair e fazer algo diferente.

Luto para que as coisas sejam fáceis

Hoje sou eu quem complico atoa. Às vezes paro e lembro como era fácil não complicar.

Hoje tenho preocupações. Como não se preocupar no mundo de hoje, quando alguém da família não chega em casa no mesmo horário?!

Contas a pagar não são como super mercado. Super mercado eu gosto, as contas eu preferia que desaparecessem.

Meus melhores amigos são poucos.

O medo é de bandidos e marginais.

O amor da minha vida eu sei quem é.

Prefiro diversão a compromisso. Prefiro festa do que jantares. Prefiro parques de diversão a restaurantes. Prefiro chocolate a pão. Prefiro pirulito a barras de cereal. Prefiro um bom papel e um bom lápis a um computador. Prefiro ser criança a crescer. Prefiro ser feliz a ser um adulto.

Que saudades do tempo em que o simples era o melhor e aquela pequena e velha casa em um bairro qualquer da cidade era um palácio. Daria tudo para voltar naquele tempo, naquela casa e nunca crescer.

Debora Souza
Enviado por Debora Souza em 23/07/2008
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1093543
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